Greve geral por melhores condições de vida mobiliza a Guiana Francesa

Convocada por 37 sindicatos unidos na Union de Travailleurs Guyanais (UTG), uma central sindical afeta à CGT de França, as reivindicações dirigem-se a todo o sistema político. Esta não é, por isso, uma greve de barganha salarial ou setorial.

A mobilização conta com o apoio de representantes políticos locais, como o presidente da Coletividade da Guiana (a Guiana Francesa é uma região administrativa que faz parte da República Francesa), Rodolphe Alexandre, que se recusa ir até Paris para participar das negociações com o governo francês pedidas por François Hollande.

As escolas, a universidade, a zona portuária, os serviços administrativos e alguns setores comerciais estão fechados desde quinta-feira, e assim irão permanecer enquanto a greve não for desconvocada. O trânsito automóvel tornou-se quase impossível devido ao fecho da maioria das estações de gasolina, e tanto a Air France como a Air Caraibes anularam os voos de e para o território. Cerca de dez barragens bloqueiam desde quinta-feira (23/03) os cruzamentos estratégicos do litoral da Guiana Francesa (link is external), fechando inclusive a entrada da capital, Caiena.

Em concreto, os grevistas reclamam um plano de investimento maciço em serviços de saúde, educação, economia e infraestruturas, bem como um fim ao sentimento de insegurança.

Criticam a ausência de respostas ao desemprego (que atinge 22% da população, 54,9% nos mais jovens entre os 15-24 anos), uma rede elétrica medíocre, o tratamento de lixos e esgotos quase inexistente, e um nível de escolarização baixo. A rede de transportes públicos consiste em sete linhas de automóveis nas principais zonas urbanas através da única autoestrada costeira, sem qualquer relação com o resto do território.

48% dos jovens de 18 anos têm dificuldade na leitura, contra a média nacional de 10% em França. 15% dos cidadãos não tem acesso a água potável; a internet também não é acessível na maior parte do interior.

A comparação com a “metrópole” continental revela uma disparidade colonial moderna. O rendimento por agregado no continente francês está nos 25,6 mil euros, mas apenas 17 mil na Guiana Francesa, apesar dos preços de bens de consumo serem 13% mais altos do que no continente. Uma em cada quatro famílias da Guiana Francesa vive abaixo da linha da pobreza.

A primeira cidade onde a greve se fez sentir foi Kourou, a cidade colonial transformada em centro do programa espacial francês em 1964 (hoje centro da Agência Especial Europeia).

O programa espacial é o centro econômico da Guiana Francesa, e o impacto no programa é instrumental para o sucesso da greve geral, tendo provocado o atraso do lançamento do primeiro satélite europeu 100% elétrico.

O momento em que foi lançada, a meio das presidenciais em França, obrigou os candidatos a posicionarem-se. Jean-Luc Mélenchon declarou a “solidariedade com todos os cidadãos da Guiana Francesa. Por seu lado, Emmanuel Macron referiu-se ao território como uma “ilha”, o que provocou um forte embaraço midiático, enquanto que Marine Le Pen denunciou os “serviços cruelmente mínimos” do território. Benoît Hamon manifestou a sua solidariedade e a vontade de lançar um plano de investimentos a cinco anos.

Fonte: Esquerda.Net
Data original da publicação: 27/03/2017

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