A circulação de trem, metrô e ônibus foi interrompida em diversas cidades argentinas, inclusive Buenos Aires. Voos domésticos foram suspensos e as ruas da capital permaneciam desertas.
A greve foi convocada por três líderes sindicais, Hugo Moyano, da CGT Azopardo (facção da Central Geral dos Trabalhadores), Luis Barrionuevo, da CGT Azul e Branco, e Pablo Micheli, da CTA (Confederação dos Trabalhadores Argentinos), que representam, entre outros, os setores dos transportes públicos e gastronômico (restaurantes, cafés e bares).
Os sindicatos, que passaram à oposição, disseram à tarde que “milhões de trabalhadores” haviam aderido à greve, num movimento “muito forte” em todo o país.
Casos isolados de violência foram registrados. Na região de Buenos Aires, policiais e manifestantes se enfrentaram em uma estrada que havia sido bloqueada, deixando vários feridos, segundo a imprensa local. Em Mar del Plata, dois taxistas foram agredidos, supostamente por não terem aderido à paralização.
Mais cedo (na quinta-feira 10/04), o chefe de gabinete do governo argentino, Jorge Capitanich, tinha minimizado a força do movimento e afirmou ser um “grande piquete nacional” com interrupção dos transportes. “Querem sitiar cidades como senhores feudais fizeram na Idade Média”, disse ele, em entrevista coletiva.
Divisão
Lideranças de outros setores, como bancos e professores, indicaram que não iriam aderir à greve, apontada por algumas delas como “política”. Grande parte dos sindicatos é ligado ao peronismo, movimento político da presidente Cristina Kirchner.
“Não vamos parar porque achamos que essa greve não faz sentido e porque ela é claramente contra o governo popular da presidente Cristina Kirchner. Mas ela terá efeito porque o pessoal de transportes públicos vai parar”, disse à BBC Brasil Carlos Girotti, diretor de comunicação da CTA.
Ele reconheceu que os preços subiram principalmente no fim do ano passado e no início deste ano.
“Porém, apesar da alta de preços, vivemos em um país onde existem discussões e acordos salariais e estamos em meio a estes debates. Não vemos motivo para a greve”, afirmou à BBC Brasil, por telefone.
Para ele, o governo tem trabalhado para resolver o problema da inflação e “merece apoio” por medidas como a reestatização da companhia aérea Aerolíneas Argentinas e da petrolífera YPF, além de ter levado “os genocidas da ditadura” ao banco dos réus – referência às iniciativas dos governos de Nestor Kirchner, morto em 2010, e de Cristina Kirchner para levar ao banco de réus militares acusados de crimes contra os direitos humanos.
“Nós achamos que essa é uma greve dos que apóiam os poderosos grupos nacionais e estrangeiros e que querem desgastar o governo nacional, popular e democrático da presidente Cristina Kirchner”, afirmou.
Na quarta-feira (09/04), o Ministério do Trabalho publicou anúncio em vários jornais do país com o título “A maioria quer trabalhar”. Nele, o governo expôs uma lista dos sindicatos que não vão aderir ao movimento, entre eles o setor industrial, bancos e comércio.
Em um discurso transmitido em rede nacional de rádio e de televisão, na terça-feira (08/04) , dois dias antes da greve, e em uma série de tuítes na quarta-feira, a presidente, Cristina Kirchner, destacou realizações de seu governo e disse: “É verdade que temos problemas. Mas não queiram nos convencer de que tudo vai mal, de que tudo está horrível”.
Inflação e pobreza
A inflação e o aumento da pobreza têm aparecido entre as principais preocupações dos argentinos em recentes pesquisas de opinião.
Segundo o governo, a inflação acumulada nos primeiros dois meses deste ano foi de 7,22%.
Roberto Lavagna, ex-ministro da Economia do governo Nestor Kirchner (2003-2007), e agora na oposição, disse à imprensa local que “o governo admitiu a inflação, mas não a pobreza”.
O FMI informou nesta semana que sua previsão para o país é de 0,5% de expansão para 2014.
Fonte: BBC Brasil
Data original da publicação: 10/04/2014