França vive o maior dia de mobilização contra a reforma da previdência

Fotografia: Jeanne Menjoulet/Flickr

No dia em que o Senado continua a discutir a lei que aumenta a idade de reforma dos franceses, o país assistiu à maior mobilização contra a proposta do Governo desde o início do movimento, com centenas de manifestações e greves, algumas delas “reconduzíveis”, ou seja, cujo prolongamento é decidido ao fim de cada dia.

Espero que os senadores não façam sesta e ouçam as pessoas que estão na rua, mesmo que não tenham sido eleitos pelo povo”, afirmou o líder da CGT, Phillipe Martinez, à France Info depois da sua central sindical ter anunciado a presença de 700 mil manifestantes em Paris.

Para o secretário-geral da CFDT, Laurent Berger, trata-se de uma “mobilização histórica” e “melhor que a de 31 de janeiro”. “Conseguimos o nosso objetivo de mostrar a determinação do mundo do trabalho” contra a lei que pretende aumentar a idade da reforma dos 62 para os 64 anos no país, afirmou o líder sindical citado pelo Le Monde.

No setor da energia, os números da adesão à greve divulgados pela administração da empresa (que se referem ao total de trabalhadores e não aos que deviam estar a trabalhar esta terça-feira) rondam os 41,5%, acima dos 40,3% anunciados pela administração na greve de 31 de janeiro. Na região de Pas de Calais, houve acusações de sabotagem na sequência de cortes no abastecimento à atividade portuária, com o transporte de pesados também bloqueado pelos grevistas. O mesmo aconteceu em Annoyay, o círculo eleitoral do ministro do Trabalho Olivier Dussopt. Também houve bloqueios à entrega de combustível em todas as refinarias e em Marselha os manifestantes da CGT que trabalham na petrolífera Exxon avisaram que se pode repetir a penúria de combustível nas bombas, tal como aconteceu em outubro passado.

No conjunto da Função Pública, o Governo francês indicou ao meio-dia a adesão de 24,4% dos trabalhadores, mais dos que os 5% que anunciou na greve de 16 de fevereiro. Na Educação, o Ministério fala de uma adesão em torno dos 32%, enquanto o Snes-FSU, sindicato maioritário no secundário, aponta 60% de grevistas nos liceus e colégios. Mais de 250 escolas e 20 universidades foram bloqueadas ao início da manhã pelos estudantes, que têm um dia de luta agendado para esta quinta-feira, não apenas contra a reforma das pensões, mas também contra a precariedade que afeta a juventude.

Nos caminhos de ferro, os sindicatos apontavam ao meio-dia 39% de grevistas, acima do que anunciaram na greve de 31 de janeiro. Com a adesão dos maquinistas a rondar os 76%, isso significou a supressão de muitos comboios em todo o país e nas ligações internacionais. Os ferroviários da CGT fazem parte do grupo de profissionais, à semelhança dos trabalhadores da petrolífera Total Energies, que aprovaram a greve reconduzível, cujo prolongamento é decidido ao final de cada dia.

Em Marselha, os sindicatos anunciaram a presença de 245 mil pessoas na manifestação. Como é hábito, o líder da França Insubmissa juntou-se ao cortejo, afirmou que o Presidente da República “fez mal em contar com o apodrecimento da situação e o cansaço popular” e desafiou Macron a tomar “uma iniciativa democrática”. Para Mélenchon, isso significa “ou a dissolução da Assembleia ou um referendo” à proposta de reforma das pensões, que segundo as sondagens é rejeitada por dois terços da população. Opinião diferente tem outro ex-candidato presidencial da esquerda. Yannick Jadot, dos Verdes, respondeu a Mélenchon que este não é o momento para dissolver o Parlamento e que não se deve colar uma agenda política sobre a agenda social.

Fonte: Esquerda
Data original da publicação: 07/03/2023

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