O novo filme de Vincent Lindon – desde a semana passada nos cinemas – fala sobre a crise francesa que desde 2008 atinge o mercado de trabalho no país.
Dirigido por Stéphane Brizé, o longa “La loi du marché” (A lei do mercado) tem seu título em português como “O valor de um homem”.
Ambos os títulos mostram que o filme traz mais para o público do que apenas a crise francesa. O filme traz a crise que atinge os trabalhadores no mundo como um todo, ou melhor, a crise do trabalho no capitalismo atual. E por que não dizer também, a crise do indivíduo inserido nesse contexto.
Vincent Lindon – ganhador da Palma de Ouro em Cannes no ano passado pelo papel – interpreta um homem de meia idade de classe média há meses a procura de emprego, desde que a fábrica em que trabalhava fechou suas portas.
Com a demora em encontrar uma função equivalente para ocupar, acaba aceitando um posto que é, digamos, talvez “menor” do que o anterior na escala social: o de segurança num supermercado (o título em francês aí opera uma ambiguidade).
Desde que o liberalismo colocou no trabalho a fonte e a medida da dignidade pessoal, estar desempregado, ou ter um subemprego, significa mais do que acumular dificuldades financeiras.
É sobretudo uma situação que lenta e gradualmente transforma o sujeito em símbolo de fracasso social. Não o sinônimo do fracasso do modelo da nossa coletividade, mas do fracasso individual perante uma sociedade que teoricamente dá as oportunidades adequadas para que cada um mostre o seu melhor.
Dada a escassez de oportunidades no mercado, o trabalhador de Vincent Lindon se vê em situações extremamente desconfortáveis, diante das quais a lei regente é sempre “ou eu ou ele”, “ou meu emprego ou o seu”.
Como coloca Noam Chomsky, o neoliberalismo serviu apenas para acentuar a perspectiva de concorrência entre os próprios empregados. O esquema “eu contra ele” garante mais segurança ao empregador na mesma medida em que enfraquece as centrais sindicais.
No contexto das atuais propostas de reforma trabalhista do presidente francês François Hollande, o filme se coloca como ainda mais atual.
Fonte: Estadão
Texto: Sílvia Feola
Data original da publicação: 03/06/2016