Uma nova pesquisa publicada na terça-feira (18) pelo Economic Policy Institute (EPI) mostra que os principais executivos das maiores corporações dos Estados Unidos agora ganham, em salários e benefícios, 320 vezes mais do que seus funcionários típicos.
A última análise anual da EPI sobre remuneração de executivos mostra que os CEOs das 350 maiores empresas dos EUA arrecadaram uma média de US$ 21,3 milhões [R$ 116 milhões ao câmbio de 19/8/2020] em 2019, um aumento de 14% em relação a 2018. A proporção 320-1 de remuneração do CEO para o trabalhador em 2019 é mais de cinco vezes maior do que a proporção 61-1 relatada em 1989.
A pesquisa do think tank surge em meio a uma pandemia global que deve exacerbar a tendência de décadas de aumento da desigualdade de renda e riqueza nos EUA – uma tendência que, de acordo com o EPI, não será revertida por CEOs que optam por cortes de salários durante uma crise de saúde pública que deixou dezenas de milhões de norte-americanos desempregados.
A nova pesquisa do Economic Policy Institute revela que a remuneração dos CEOs cresceu 1.167% de 1978 a 2019, “superando em muito” o crescimento do mercado de ações.
“Os CEOs que se oferecem para aceitar cortes de salários não estão abrindo mão de uma parcela significativa, considerando que parte de seu pagamento vem de prêmios de ações e opções”, disse EPI.
Lawrence Mishel, um eminente membro do EPI e co-autor do novo relatório, disse em um comunicado que “embora o crescimento dos salários para a maioria dos norte-americanos tenha permanecido relativamente estagnado por décadas, a remuneração do CEO continua a crescer exponencialmente”.
“Isso alimentou o crescimento espetacular da renda das camadas 0,1% e 1,0% de maior renda e o crescimento da desigualdade de renda em geral”, disse Mishel. Ele afirmou ao Washington Post que o salário do CEO pode aumentar novamente em 2020, apesar do colapso econômico nacional causado pela crise da Covid 19.
“Os CEOs que aceitam cortes salariais durante a pandemia do coronavírus geram comunicados à imprensa”, acrescentou Mishel, “mas nenhum progresso real na redução da desigualdade e no aumento dos salários dos trabalhadores”.
Como uma alternativa substantiva aos truques de relações públicas do CEO, o EPI propôs várias mudanças de política que reduziriam significativamente a enorme lacuna entre a remuneração do CEO e o pagamento do trabalhador comum:
– Restabelecer taxas marginais de imposto de renda mais altas no topo da escala de renda;
– Definir alíquotas de imposto corporativo mais altas para empresas que têm índices mais altos de remuneração entre CEO e trabalhador;
– Limitar a remuneração e tributar todo o ganho que supere o limite; e
– Permitir maior uso da fórmula “opinar sobre o pagamento”, que permite aos acionistas de uma empresa votarem na remuneração dos principais executivos.
Jori Kandra, assistente de pesquisa da EPI e coautor do novo relatório, disse que “o enorme crescimento na remuneração do CEO” nas últimas quatro décadas “não é um reflexo do mercado de talentos”.
“Sabemos disso porque a remuneração do CEO cresceu mais de três vezes mais rápido do que o crescimento dos ganhos do grupo 0,1% de maior renda, que foi de 337% no mesmo período”, disse Kandra. “Isso significa que a remuneração do CEO pode ser restringida para reduzir a lacuna crescente entre os que ganham mais e todos os demais, com pouco ou nenhum impacto na produção da economia ou no desempenho da empresa.”
Fonte: Carta Maior, com Common Dreams
Texto: Jake Johnson
Tradução: César Locatelli
Data original da publicação: 19/08/2020