A leve retomada econômica registrada em 2013 não levou a uma melhoria do mercado de trabalho mundial. Segundo um relatório anual da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgado no dia 20 de janeiro, o desemprego continua aumentando, sobretudo entre os jovens. O estudo também aponta um novo fenômeno: o tempo que os trabalhadores levam para encontrar um novo emprego praticamente dobrou, o que levou 23 milhões de pessoas a abandonarem o mercado de trabalho no ano passado.
Apesar de uma tímida retomada econômica, o número de desempregados continuou aumentando em 2013. No ano passado havia cerca de 202 milhões de desempregados no mundo, o que corresponde a 6% da população ativa. E segundo Organização Internacional do Trabalho esse índice pode piorar em 2014.
A entidade divulgou no dia 20 de janeiro seu relatório anual sobre as tendências mundiais do emprego. Como nos anos precedentes, os jovens são os mais afetados. A taxa de desemprego na faixa etária de 15 a 24 anos chega a 13,1%.
Um dado que chama a atenção no levantamento é o fato de que 23 milhões de pessoas abandonaram o mercado de trabalho em 2013, desmotivadas com a dificuldade de achar um novo emprego.
“Nosso estudo mostra que a duração do desemprego praticamente dobrou. Na Espanha, por exemplo, constatamos que hoje em dia um desempregado leva em média nove meses para encontrar outro trabalho. Mesmo nos países onde a retomada econômica já é mais forte, como os Estados Unidos, a duração média do desemprego permanece elevada, em torno de seis meses. Isso não havia sido observado nos anos precedentes”, enfatiza Ekkehard Ernst, co-autor do relatório e chefe de Tendências do Emprego na OIT.
“Essa situação faz com que muitas pessoas desempregadas há bastante tempo fiquem desmotivadas devido à incapacidade de encontrar um emprego adequado e abandonem o mercado de trabalho. Ou então elas simplesmente perdem o direito de receber o seguro-desemprego e por isso acabam desistindo de procurar trabalho”, acrescenta ele.
Essa realidade cruel, que alguns analistas brasileiros designam pelo poético nome de “desemprego por desalento”, pode mascarar a verdadeira situação do mercado de trabalho, segundo o cientista político Ricardo Ismail, professor da PUC-Rio: “Estatisticamente isso alivia a taxa de desemprego e alivia a pressão sobre o mercado de trabalho, mas não resolve o problema.”
“Esse desemprego oculto às vezes não é captado pelas estatísticas, porque as pesquisas geralmente medem quantos indivíduos estão procurando emprego na semana ou mês de referência, e essas pessoas que deixam de procurar são contadas como parte da população não economicamente ativa”, explica ele.
Políticas públicas
Mesmo lembrando que sempre há um intervalo de tempo entre o início da retomada econômica e o momento em que as empresas recomeçam a contratar, a OIT alerta que os governos devem repensar suas políticas de austeridade a fim de acelerar a criação de empregos.
Se a tendência atual for mantida, a entidade estima que serão criados mais 200 milhões de empregos até 2018. Um número insuficiente para absorver a quantidade crescente de trabalhadores que ingressam no mercado. Isso deve resultar em mais 13 milhões de pessoas à procura de trabalho.
Ao contrário do que acontece nas economias desenvolvidas, incluindo a União Europeia, o mercado de trabalho no Brasil continua aquecido.
“Tanto no que diz respeito ao Brasil quanto à América Latina em geral, o crescimento do mercado de trabalho foi suficientemente forte para continuar absorvendo o número de desempregados existente. A região teve um aumento muito pequeno do número absoluto de desempregados. Aliás, o índice de desemprego no Brasil hoje em dia é cerca de dois pontos percentuais menor do que o que foi observado antes da crise. Uma das principais causas foi o conjunto de políticas sociais e econômicas do governo que favoreceram a criação de empregos”, analisa Ekkehard Ernst.
Apesar dessa situação aparentemente cor-de-rosa, o Brasil precisa investir mais na qualidade dos empregos, segundo o pesquisador Ricardo Ismail. Por qualidade, entenda-se um emprego que garanta um bom nível de renda e o respeito dos direitos dos trabalhadores.
“O desafio do Brasil é tentar reduzir o trabalho informal, que ainda corresponde a cerca de 40% do mercado de trabalho, e também tentar gerar empregos que tenham rendimentos maiores, no setor industrial ou de serviços de maior qualificação”, aponta Ismail.
Fonte: RFI
Texto: Kênya Zanatta
Data original da publicação: 20/01/2014