Uma nova pesquisa da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Fundação Walk Free, em parceria com a Organização Internacional para Migração (OIM), revela a verdadeira escala da escravidão moderna em todo o mundo. Os dados, lançados terça-feira (19/9) durante a Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque, mostram que mais de 40 milhões de pessoas foram vítimas da escravidão moderna em 2016 globalmente. Além disso, a OIT também lançou uma nova estimativa de que cerca de 152 milhões de crianças entre 5 e 17 anos foram submetidas ao trabalho infantil no mesmo ano.
Para a diretora de Cidadania e Direitos Humanos da Anamatra, Luciana Conforti, o principal fator a ser considerado na análise da escravidão contemporânea é a pobreza que envolve as vítimas, já que 90% dos resgatados são provenientes dos Estados com os menores índices de desenvolvimento humano, como o Maranhão e o Piauí, no caso do Brasil. “Os altos índices de desemprego, a ausência de políticas públicas específicas voltadas aos resgatados e para a proteção em face da escravização, inclusive de crianças, agravam o problema. A desregulação do mercado de trabalho tende a precarizar as ofertas de emprego e acentua a vulnerabilidade desses trabalhadores”, alerta a magistrada.
As novas estimativas mostram que as mulheres e as meninas são as mais afetadas pela escravidão moderna, chegando a quase 29 milhões ou 71% do total. As mulheres representam 99% das vítimas do trabalho forçado na indústria comercial do sexo e 84% dos casamentos forçados.
A pesquisa revela que, entre as 40 milhões de vítimas da escravidão moderna, cerca de 25 milhões foram submetidas a trabalho forçado e 15 milhões foram forçadas a se casar.
O trabalho infantil continua concentrado principalmente na agricultura (70,9%). Um em cada cinco trabalhadores infantis trabalha no setor de serviços (17,1%), enquanto que 11,9% dos trabalhadores infantis trabalham na indústria.
Para o diretor-geral da OIT, Guy Rider, as novas estimativas globais podem ajudar a moldar e desenvolver intervenções para prevenir o trabalho forçado e o trabalho infantil. “O fato de que, como sociedade, ainda tenhamos 40 milhões de pessoas na escravidão moderna é uma vergonha para todos nós. Se considerarmos os resultados dos últimos cinco anos, para os quais coletamos dados, 89 milhões de pessoas tiveram alguma experiência de escravidão moderna, por períodos de tempo que variam de alguns dias a cinco anos. Isso fala diretamente com a discriminação e a desigualdade enraizadas profundamente em nosso mundo atual, associadas a uma tolerância chocante da exploração. Isso precisa parar. Todos nós temos um papel a desempenhar na mudança dessa realidade – empresas, governos, sociedade civil, cada um de nós”, afirmou o presidente e fundador da Fundação Walk Free, Andrew Forrest.
Sobre os dados – As novas estimativas globais são um esforço coletivo dos membros da Aliança 8.7, a parceria mundial para acabar com o trabalho forçado, a escravidão moderna, o tráfico de pessoas e o trabalho infantil, que reúne parceiros-chave representando governos, organizações das Nações Unidas, setor privado, organizações de empregadores e trabalhadores e sociedade civil, a fim de atingir a Meta 8.7 da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável.
Os dados estão publicados em dois relatórios:
– Estimativas Globais da Escravidão Moderna: trabalho forçado e casamento forçado, elaborado em conjunto pela OIT e pela Fundação Walk Free, em parceria com a OIM;
– Estimativas Globais de Trabalho Infantil: resultados e tendências 2012-2016, elaborado pela OIT.
Os dados estão disponíveis em www.alliance87.org/2017ge.
Fonte: Anamatra
Data original da publicação: 20/09/2017