Autora: | Renata Faleiros Camargo Moreno |
Orientadora: | Helena Sumiko Hirata |
Ano: | 2019 |
Tipo: | Tese de Doutorado |
Instituição: | Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. |
Repositório: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Resumo: | A pesquisa tem como objeto o trabalho e as práticas de cuidado de crianças pequenas, a partir de diferentes processos e sujeitos que realizam essa atividade, gratuitamente nos domicílios ou como profissão. A tese se nutre da interdisciplinariedade própria à teoria feminista e, partindo dos estudos sociológicos sobre trabalho doméstico e de cuidado, constrói uma perspectiva de análise que integra contribuições da economia feminista. Apoia-se nas noções de divisão sexual do trabalho, imbricação das relações sociais de gênero, raça e classe, e na perspectiva da sustentabilidade da vida como instrumentos teóricos que orientam a análise. As diversas modalidades do trabalho de cuidar de crianças se manifestam em uma pluralidade de arranjos, interdependentes, mas também conflitantes e em permanente transformação. Em uma cidade profundamente desigual, como é São Paulo, Estado, mercados, família e comunidade integram a discussão a partir desta diversidade de arranjos, das conexões e dinâmicas entre os sujeitos, os trabalhos e as práticas sociais que sustentam o cuidado. Instituído na Constituição Federal de 1988, o direito à creche é uma reivindicação histórica que marcou a organização popular do feminismo brasileiro. De lá para cá, as creches foram integradas à política de educação, e verificou-se expansão significativa, mas aquém da demanda. Viu-se emergir uma camada profissionalizada de mulheres, com formação no ensino superior, que assumem o cuidado de crianças pequenas como professoras nas creches e pré-escolas. Estas são relativamente mais valorizadas e formalizadas que as que cuidam de crianças na vizinhança ou como trabalhadoras domésticas (babás). As mudanças relativas à composição do cuidado não transformam os princípios da separação, hierarquização e invisibilização nexos da divisão social, sexual e racial do trabalho , mas produzem deslocamentos: aproximam e distanciam mulheres e homens, e mulheres entre si. A análise confirma a indissociabilidade entre o cuidado direto e tudo o que precisa ser feito para garantir as condições de vida alimentação, limpeza , revelando permanências na dinâmica que separa e hierarquiza tais trabalhos, invisibilizando os trabalhos com menor valorização social e os sujeitos responsabilizados por eles. As dimensões do afeto, da dependência/autonomia, dos ritmos, atividades e da responsabilização pelo cuidar são aspectos com manifestações singulares no cuidar de crianças pequenas quando comparadas ao cuidado de idosos, que predomina nas análises contemporâneas sobre o trabalho de cuidado. A pesquisa evidencia que o ajuste entre as lógicas em conflito do capital e da sustentabilidade de vida se dá tanto no trabalho não remunerado (mulheres nas famílias), como no trabalho remunerado de diferentes responsáveis pelo cuidado que absorvem os impactos desse conflito em seus corpos e tempos. |
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