Um movimento de recuperação no mercado de crédito levou o porcentual de famílias endividadas à sexta alta mensal consecutiva, e ao maior patamar em seis anos. É o que mostrou nesta terça-feira a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) ao divulgar a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).
No levantamento, 64% das famílias pesquisadas declararam-se endividadas em junho, superior à de maio (63,4%), acima de junho do ano passado (58,6%) e a maior desde julho de 2013 (65,2%). Condições melhores no acesso ao crédito, como juros menores e inflação em baixa, levaram ao maior acesso à tomada de empréstimos, afirmou Mariana Hanson, pesquisadora da CNC.
O cenário fez com que a parcela de orçamento mensal familiar, comprometida com dívidas, aumentasse de 29,3% para 29,5% entre maio e junho, maior taxa desde setembro do ano passado (29,6%).
Mas, para a especialista da CNC, o crescimento no volume de famílias com empréstimos não deve durar. Isso porque as famílias já operam no limite do endividamento em junho.
Para ela, é preciso alguma reação na atividade econômica, com impacto no mercado de trabalho e na renda do trabalhador, para que o orçamento familiar possa comportar novos empréstimos, notou Mariana.
Mesmo a pesquisa mostrando alto grau de endividamento das famílias, a pesquisadora notou alguns aspectos positivos no levantamento. Segundo a técnica, a pesquisa mostrou melhora no perfil de endividamento das famílias. Marianne detalhou que o aumento no endividamento foi mais deslocado para empréstimos de longo prazo, do que para dívidas de curto prazo, afirmou ela.
Um dos exemplos citados por ela foi financiamento de casa. Esse tópico foi lembrado por 8,8% dos que admitiram dívidas em junho. Embora seja bem menor do que a fatia em junho para cartão de crédito (citado por 78,8% dos endividados, e novamente ocupando primeira posição entre dívidas mais lembradas) foi maior do que de maio (8,5%); e o maior desde outubro do ano passado (9,6%).
O levantamento mostrou ainda sinais de estabilidade, ou até mesmo queda nos indicadores de inadimplência. Entre as famílias endividadas, a parcela de famílias com dívidas ou contas em atraso foi de 23,6% em junho deste ano, abaixo de maio (24,1%); e de junho do ano passado (23,7%). Ao mesmo tempo, as famílias endividadas que declararam não ter condições de pagar seus empréstimos foi de 9,5%, igual a de maio deste ano.
Entretanto, essa fatia de 9,5% foi superior a junho do ano passado (9,4%) e o mais elevado desde outubro do ano passado (9,9%).
A economista da confederação admitiu que o percentual de inadimplência sem condição de pagamento é expressivo em junho. Ela frisou ser necessário algum tipo de melhora mais firme no mercado de trabalho, para aliviar mais o perfil de endividamento das famílias.
“O que está desempenhando melhor [na economia] é o mercado de consumo, mas ainda é muito tímido”, notou. “O crescimento do crédito a ritmo maior que atividade econômica não chega necessariamente a ser preocupante, mas não vemos como uma coisa muito sustentável, porque não temos melhora no mercado de trabalho”, afirmou. “Se não houver recuperação [do emprego] no segundo semestre, essa recuperação do mercado de crédito não se sustenta”, reiterou.
Fonte: Valor Econômico
Texto: Alessandra Saraiva
Data original da publicação: 09/07/2019