Emprego aumenta, mas inflação corrói salário

País tem 9,5 milhões de pessoas ocupadas a mais do que há um ano, mas a soma dos rendimentos do trabalho não subiu.

César Locatelli

Fonte: Carta Maior
Data original da publicação: 01/12/2021

O rendimento médio do trabalho era de R$ 2.766, no terceiro trimestre de 2020. Esse valor já é real, ou seja, já é ajustado pela inflação, o que nos possibilita comparar diretamente com o valor de R$ 2.459, apurado pelo IBGE para o terceiro trimestre de 2021.

A diferença, R$ 309 (2766 menos 2459), significa que, na média, o rendimento do trabalho perdeu 11,1% entre setembro de 2020 e setembro de 2021. O percentual de queda é muito próximo da inflação (10,25%) no período. Desse modo é possível dizer que a inflação ‘comeu’ um pouco mais de um real em cada dez reais que o trabalhador recebia há um ano.

Por conta dessa queda no rendimento dos trabalhadores, o aumento no nível de ocupação (9,5 milhões de novos postos de trabalho em comparação ao mesmo período de 2020) não conseguiu levar mais dinheiro para o bolso dos trabalhadores, não aumentou a massa total dos rendimentos do trabalho. Mais gente trabalhando com remuneração menor fez com que a somatória total dos salários (223,5 bilhões) ficasse praticamente estável entre o trimestre terminado em setembro de 2020 e o trimestre equivalente de 2021.

Os ocupados, que há um ano somavam 83,4 milhões de pessoas, somavam 93 milhões no trimestre analisado. Houve uma diminuição no números de desocupados (- 1,1 milhão) e aumento da população na força de trabalho (8,4 milhões). A soma (9,5 milhões) é um importante aumento da população ocupada.

A taxa de desocupação ficou em 12,6%, 2,3 pontos percentuais inferior a taxa de 14,6% observada no mesmo trimestre de 2020. Essa taxa de desocupação ainda é, no entanto, a segunda maior observada nos últimos 10 anos.

Outra medida relevante para avaliar-se o mercado de trabalho é a taxa composta de subutilização da força de trabalho, que caiu de 28,5% para 26,5. O número absoluto de pessoas subutilizadas ainda é alto, 30,7 milhões de pessoas, mas apresentou uma queda de 3 milhões de pessoas em relação ao terceiro trimestre de 2020.

O resumo, portanto, desse mais recente relatório da PNAD, é que houve um forte aumento no número de pessoas ocupadas (9,5 milhões). A inflação corroeu parte do rendimento dos trabalhadores fazendo com que o somatório dos rendimentos de todos os ocupados se mantivesse no mesmo nível de um ano atrás. Desse modo, de cada 10 reais recebidos de salário há um ano, o trabalhador perdeu, na média, pouco mais de um real. Da mesma forma, de cada quatro pessoas disponíveis para trabalhar uma está desempregada, desalentada ou não trabalha o número de horas que gostaria, o que faz o grupo de subutilizados ultrapassar os 30 milhões de pessoas.

Cesar Locatelli é economista, mestre em Economia e articulista na mídia alternativa.

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