Os brasileiros continuam sofrendo fortemente com a recessão econômica brasileira que não dá trégua. O custo da estagnação econômica tem sido a massiva perda dos empregos, como revelou nesta quinta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) , divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em um ano, 1,9 milhão de brasileiros perderam seus empregos. Na mesma pesquisa divulgada em novembro de 2015 (trimestre móvel de setembro a novembro), 554.000 pessoas haviam perdido seus postos de trabalho, em relação ao mesmo período de 2014. A comparação deixa claro como a crise se aprofundou no país no último ano.
Se somado ao total de pessoas que antes não procuravam emprego e tiveram de entrar na fila por um posto de trabalho – 1,1 milhão de novos candidatos, entre brasileiros que precisaram procurar emprego para reforçar o orçamento familiar e jovens que acabaram de chegar ao mercado laboral –, o número de desocupados em 12 meses, até novembro de 2016, aumentou 3 milhões.
Ao todo, o país acumula 12,1 milhões de pessoas sem trabalho. Assim, entre setembro e novembro deste ano, a taxa de desemprego no Brasil ficou em 11,9%, segundo os dados publicados na quinta-feira (29/12). Este é o maior contingente de desempregados já registrado pela Pnad Contínua desde que o cálculo do desemprego começou a ser feito dessa maneira, com trimestres móveis, em 2012.
Na comparação com os três meses anteriores (junho a agosto), entretanto, o contingente de desempregados ficou estável, quando a taxa de desemprego era de 11,8%.
Em meio a uma recessão sem precedentes, os dados divulgados pelo IBGE ficaram dentro do esperado pelos analistas. “O desemprego é sempre o último indicador a melhorar em uma economia. Como em 2017 a atividade econômica ainda vai estar baixa, há uma chance muito grande de ver o índice de desemprego aumentar ainda mais no próximo ano”, afirma Sérgio Valle, economista-chefe da MB Associados
As projeções de alguns bancos brasileiros também apontam uma tendência de alta do número dos desempregados nos próximos meses. Segundo o banco Santander, o índice de desemprego chegará a 12,7% no próximo ano. “Acreditamos que o mercado de trabalho continuará se deteriorando ao longo do primeiro semestre de 2017, ainda que de forma menos intensa. De fato, prevemos que a taxa de desemprego atingirá o pico ao final do segundo trimestre de 2017 (em torno de 13,0%) e, a partir de então, apresentará uma trajetória de queda bastante lenta”, escreveu o banco em relatório publicado na manhã desta quinta-feira.
Ainda segundo a pesquisa, a população ocupada no terceiro trimestre, que é a que de fato está trabalhando (com carteira assinada, por conta própria ou informalmente) somava 90,2 milhões de pessoas e ficou estável em relação ao trimestre anterior
O alto índice de desemprego continua sendo um dos maiores desafios do Governo de Michel Temer, que assumiu o poder interinamente em maio, e ainda não conseguiu domar a turbulência do cenário político com os desdobramentos das investigações da Lava Jato. Na tentativa de controlar o aumento da desocupação no país, o presidente repaginou um programa de manutenção de emprego herdado de Dilma Rousseff e também anunciou, na semana passada, o envio ao Congresso em 2017 de uma reforma mais ampla das regras trabalhistas. As alterações abarcam contratos de trabalho parcial, aumentando o tempo de contratação e renovação e também das horas trabalhadas e a contratação temporária.
“Sabemos da angústia do desemprego. É uma coisa que perturbar as pessoas do nosso país. Cria um sentimento de instabilidade muito grande. Tenho dito nos últimos tempos que o ano de 2017 será, efetivamente, um ano novo. Não será a prorrogação de 2016 “, afirmou Temer nesta quinta-feira depois do anúncio dos dados da Pnad.
A pesquisa mostrou ainda que a informalidade cresceu e 1,3 milhão de trabalhadores perderam a carteira assinada e passaram para o mercado informal. O total de empregados no setor privado com carteira de trabalho ficou em 34,1 milhões de pessoas, uma queda de 3,7% em relação ao mesmo trimestre de 2015.
Apesar do desemprego em alta, a renda média praticamente se manteve. O salário médio foi de 2.032 reais, valor estável em relação ao trimestre encerrado em agosto (2.027 reais) e na comparação com o mesmo período do ano passado (2.041 reais).
Fonte: El País
Texto: Heloísa Mendonça
Data original da publicação: 29/12/2016