O ex-ditador Reynaldo Bignone foi condenado a 23 anos de prisão por crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura militar na Argentina (1976-1983) dos quais foram vítimas operários da periferia norte da capital Buenos Aires.
A sentença, emitida por um tribunal do país na noite da terça-feira (08/10), representa a quarta condenação de Bignone, de 86 anos, o último presidente de fato da Argentina. No processo, que tinha sido iniciado em julho, foram julgados crimes contra 60 vítimas, trabalhadores dos estaleiros Astarsa e Mestrina, das fábricas de cerâmica Lozadur e Cattáneo e da metalúrgica Bopavi, na periferia norte de Buenos Aires.
As vítimas foram em sua maioria delegados sindicais, 28 deles sequestrados e torturados, e outros 32, além disso, desaparecidos durante a ditadura.
“Eram todos trabalhadores, a maior parte delegados sem militância política partidária, muito menos em uma organização armada, que foram perseguidos por sua condição de militantes associados”, argumentou o advogado peticionista Ciro Annicchiarico, da Secretaria de Direitos Humanos da Argentina. “O objetivo era desativar reivindicações sindicais com uma finalidade econômica em benefício das empresas privadas”, ressaltou.
Bignone já tinha sido condenado à prisão perpétua pelo sequestro e homicídio do militante peronista Gastón Goncálvez, e o sequestro do ex-deputado Diego Muñiz Barreto, que morreu em um acidente forjado. O ex-militar também já havia sido sentenciado a 25 anos de prisão por diversos sequestros entre 1976 e 1978, quando trabalhava no Campo de Maio, e recebeu outra pena de 25 anos pelo roubo de bebês nascidos quando suas mães estavam prisioneiras em centros clandestinos de detenção.
Apenas “obedecia ordens”
Além de Bignone, o ex-general Santiago Omar Riveros foi condenado à prisão perpétua, enquanto os também ex-militares Luis Sadi Pepa e Eugenio Guañabens Perelló pegarão 17 e 16 anos de reclusão, respectivamente. O tribunal também sentenciou a 9 anos de prisão o ex-chefe policial Juan Demetrio Luna e o ex-agente guarda-costeira Juan Carlos Gerardi, mas absolveu os outros três ex-prefeitos acusados, Roberto Julio Rossin, Héctor Omar Maldonado e Alejandro Portas.
Entre os réus arrolados no processo, apenas alguns deles optaram por realizar uma defesa oral. Gerardi afirmou que só cumpria tarefas de inteligência dentro da “luta contra a subversão” e pediu desculpas às famílias dos desaparecidos, enquanto Rossin disse que só faziam “guardas e obedecer ordens”. Por sua vez, Maldonado disse que jamais torturou alguém e que, apesar de saber que seria detido, se apresentou à Justiça, enquanto Portas alegou que obedecia ordens.
Responsabilidade empresarial
O chamado “julgamento dos operários” foi o 11º da “megacausa” de Campo de Maio, guarnição militar da periferia de Buenos Aires sob o comando de Bignone e em cuja órbita foram cometidos múltiplos crimes contra a humanidade.
Fora desta causa ficaram os sequestros de trabalhadores da fábrica de automóveis da Ford, caso pelo qual são acusados, entre outras pessoas, três ex-diretores da companhia, que serão eixo de outro julgamento.
Durante este processo, tanto a promotoria como os advogados peticionistas solicitaram que, além de julgar os ex-militares e ex-prefeitos, fosse averiguada a responsabilidade empresarial nos crimes contra a humanidade nas fábricas.
Fonte: Opera Mundi, com informações da Agência EFE
Data original da publicação: 08/10/2014