Em cidade alemã, o dilema entre o desemprego e a produção de armas

O estaleiro Peene, em Wolgast, no norte da Alemanha, quase viu seu fim em 2012, quando a crise do transporte marítimo ameaçou acabar com 60 anos de construção naval na cidade, levando consigo 500 empregos.

Até que um salvador inesperado entrou em cena: o grupo Lürssen assumiu o estaleiro e trouxe consigo um lucrativo contrato de 1,4 bilhão de euros para a construção de barcos de patrulha para a guarda costeira da Arábia Saudita. Wolgast tornou-se, assim, mais uma cidade alemã dependente da exportação de armas e material militar.

Exportações da armas é um tema controverso na Alemanha, um dos maiores vendedores de armas do mundo. No centro da discussão está o destino do armamento produzido, que muitas vezes vai para países, como o Catar e a Arábia Saudita, criticados como antidemocráticos e por violar os direitos humanos.

Única opção

No Parlamento alemão, o partido que mais critica a exportação de armas é A Esquerda, que exige até mesmo que a proibição de produzi-las seja incluída na constituição. Apesar disso, os políticos locais da legenda aplaudiram publicamente o trabalho do estaleiro em Wolgast, cidade de 12 mil habitantes.

Lars Bergemann é um deles. Ele justifica sua posição dizendo que as famílias precisam se alimentar de alguma forma e merecem ter um padrão de vida decente. Ele questiona a real praticidade da plataforma de A Esquerda que defende o banimento da produção de armas.

O especialista em armas do partido em Berlim, Jan van Aken, diz que a eventual perda de empregos não deve contar na equação. “Isso é apoiar um regime opressivo, ainda por cima com armas. Isso é totalmente errado”, afirma.

Outros 360 empregos devem se somar aos 300 que o grupo Lürssen oferece atualmente no estaleiro Peene. A cidade tem poucas alternativas de trabalho e, mesmo nos bons meses, apresenta taxas de desemprego com dois dígitos. Van Aken vê isso como uma desculpa: “Você não pode colocar empregos acima da vida de pessoas, isso é inconcebível.”

Arábia Saudita como destino

Já Bergemann, político na região há 15 anos, diz que as más condições econômicas fazem o trabalho no estaleiro especialmente atraente. Seu próprio pai foi engenheiro lá. Defendendo o pragmatismo, ele afirma entender a situação: empresários que buscam prosperidade e trabalhadores que necessitam de renda para pagar as contas.

Bergemann argumenta que a decisão não foi tomada na cidade. Quem decidiu comprá-las foi a Arábia Saudita. A aprovação para a produção foi dada em Berlim. E quem optou por Wolgast foi a empresa, cuja sede fica em Bremen.

“Meu trabalho como um político local é dizer: ótimo, nosso povo tem trabalho”, diz Bergemann. Isso não quer dizer que ele esteja de acordo com o tipo de trabalho que está sendo feito – simplesmente não havia outra opção.

Van Aken, por outro lado, acha que o estaleiro já deveria ter mudado para outro tipo de trabalho há anos. Como isso não aconteceu, argumenta, Wolgast abriu-se à extorsão pela indústria de armas, e cada trabalhador carrega uma responsabilidade moral.

“Como trabalhador, você deve considerar se quer trabalhar na fabricação de instrumentos que serão usados para matar”, diz Van Aken. “Toda arma encontra uma guerra, e pessoas são mortas com elas.”

Apesar de ter ido contra as linhas partidárias, Bergemann, por sua vez, continua como político de A Esquerda. Nas eleições da cidade, há algumas semanas, ele recebeu o dobro de votos em comparação ao pleito anterior.

Fonte: Deutsche Welle
Texto: Christian Siepmann
Data original da publicação: 31/072014

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