Eleições no Brasil – Compromisso com o desenvolvimento econômico sustentável

O Brasil deve agir como agente catalizador de uma transição verde sustentável, gerando políticas que aumente a resiliência do país.

Carmem Feijó e Fernanda Feil

Fonte: GGN, com Democracia e Economia 
Data original da publicação: 05/10/2022

A crise climática se reflete não somente no aquecimento global e aumento e intensidade dos eventos climáticos extremos – como secas, geadas, enchentes, entre outros; mas também na perda da biodiversidade e do capital natural, acidificação dos oceanos, aumento da insegurança alimentar, crescimento do fluxo migratório, reordenação dos ativos e dos fluxos de capitais, mudança drástica na estrutura produtiva e de consumo e reformulação do sistema financeiro.

Nesse processo, é importante salientar que os países em desenvolvimento como o Brasil são os mais vulneráveis do ponto de vista econômico por pelo menos dois motivos principais: pela integração financeira subordinada no sistema financeiro internacional, o que limita o espaço de política, e porque desastres induzidos pelo clima afetam de forma mais duradoura os países dependentes de exportações de commodities agrícolas, ou seja, aqueles que ainda não fizeram o catching up com as economias mais desenvolvidas.

No primeiro caso, a subordinação da moeda num sistema financeiro hierarquizado implica menor espaço tanto de política monetária – pela necessidade de oferecer taxas de juros reais elevadas – como fiscal –defesa de orçamento equilibrado – e também cambial – manutenção de elevados níveis de reservas cambiais e pressão para a liberdade de fluxo de capitais.

No segundo caso, a crise climática se manifesta na vulnerabilidade da balança comercial, especializada na exportação de commodities, uma vez que crises climáticas acentuam as flutuações cíclicas nas economias em desenvolvimento e tornam a retomada do crescimento mais demorada.

Neste sentido, do ponto de vista do desenvolvimento econômico, a transição ecológica dos países em desenvolvimento coloca desafios maiores do que para as economias desenvolvidas, pois além de adequarem os processos de produção e os hábitos de consumo à nova realidade ambiental (o cumprimento das metas estabelecidas em acordos internacionais de redução de emissão de gases com efeito estufa) devem observar a necessidade de ampliar o espaço de política para a superação do subdesenvolvimento. Quer dizer, os riscos físicos são maiores em economias em desenvolvimento, enquanto os riscos de transição são mais acentuados em economias desenvolvidas.

Inserido nesse contexto externo, o Brasil deve agir como agente catalizador de uma transição verde sustentável, gerando políticas que aumente a resiliência e adaptabilidade do país ao novo contexto.

Ao contrário do ocorrido nesses últimos quatro anos de governo Bolsonaro, o governo Lula atuou nesse sentido. Ainda, o programa de governo da coligação Brasil da esperança tem o compromisso formal com a sustentabilidade social, ambiental, econômica e com o enfrentamento das mudanças climáticas. Explicitamente o plano de governo salienta a necessidade de “cuidar de nossas riquezas naturais, produzir e consumir de forma sustentável e mudar o padrão de produção e consumo de energia no país, participando do esforço mundial para combater a crise climática. Somaremos esforços na construção de sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis e no avanço da transição ecológica e energética para garantir o futuro do planeta, apoiando o surgimento de uma economia verde inclusiva, baseada na conservação, na restauração e no uso sustentável da biodiversidade de todos os biomas brasileiros.”

É um plano que está alinhado com a necessidade de um planejamento para o desenvolvimento sustentável, para a criação de um plano concreto não somente de redução das emissões de GEE, mas também de transição para uma economia de baixo carbono, diversa, inovadora e que promova a mudança estrutura de forma sustentável.

A transição ecológica no Brasil deve ser utilizada como instrumento para aumentar o espaço de política macroeconômica e um green new deal seria uma alternativa para incorrermos em processo de catch up sustentável, reduzindo a dependência de exportação de bens intensivos em recursos naturais.

Carmem Feijó é professora titular da UFF e Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Financeirização e Desenvolvimento – Finde/UFF.

Fernanda Feil é pesquisadora de pós-doutorado da UFF e do Finde/UFF.

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