A candidatura do Brasil para integrar a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) voltou a ser discutida depois de os Estados Unidos anunciarem que vão priorizar o pleito brasileiro de ingresso no “clube dos países ricos”.
O apoio do governo de Donald Trump vem depois de o presidente Jair Bolsonaro ter feito uma série de concessões importantes aos Estados Unidos em 2019.
O Brasil é um dos seis candidatos a iniciar o processo de entrada no organismo internacional, mas os EUA vinham defendendo que Argentina e Romênia entrassem primeiro. Agora, no entanto, o Departamento de Estado dos EUA informou, por meio de nota, que “os EUA querem que o Brasil se torne o próximo país a iniciar o processo de adesão à OCDE”.
A OCDE reúne 36 países-membros — na maioria, com economias desenvolvidas, como Estados Unidos, Japão e países da União Europeia. Chile e México são os únicos representantes da América Latina. A Colômbia foi aceita pelo grupo em maio de 2018 e se tornará o 37º membro.
A organização é conhecida por defender a democracia representativa e a economia de mercado. É também importante na produção de pesquisa orientada a criar e melhorar políticas públicas.
Mas o caminho para integrar o grupo é longo. Com o apoio americano, o Brasil precisa agora garantir o aval dos demais membros da organização, principalmente países europeus.
Se houver uma chancela ao início do processo de entrada, o país passará a ser avaliado por comissões temáticas quanto ao cumprimento de recomendações da OCDE em diversos setores, como meio ambiente, saúde, responsabilidade fiscal e combate à lavagem de dinheiro. Todo o procedimento pode levar de 3 a 5 anos.
Para economistas, o ingresso do país na organização funcionaria como uma espécie de “selo de qualidade” na economia, o que potencialmente pode atrair investimentos e melhorar a nota do Brasil em avaliações de risco.
Com base em dados compilados pela própria OCDE, a BBC News Brasil mostra, em cinco pontos, como o Brasil se posiciona na comparação com membros da OCDE em relação à economia e a indicadores relacionados à qualidade de vida da população.
1. PIB per capita
O Brasil tem um Produto Interno Bruto (PIB) per capita inferior aos de todos os países que integram a OCDE. Esse indicador mostra a soma de todos os bens e serviços finais produzidos por um país dividido pelo número de habitantes.
O gráfico abaixo mostra o Brasil, em azul, e a média da OCDE (em vermelho). Em cinza, aparecem todos os países da OCDE, com Luxemburgo, Irlanda e Suíça com melhores resultados e México, Chile e Turquia com os piores.
A imagem, gerada pelo sistema de estatísticas da OCDE, leva em conta dados de 2018 ou o mais recente disponível — o do Brasil, por exemplo, é de 2017.
2. Emprego
A OCDE compila no relatório Better Life Index (Índice da Vida Melhor, em tradução livre) dados sobre diversos aspectos que contribuem para o bem-estar, como escolaridade, moradia, e emprego. Embora não faça um ranking geral, o relatório aponta a colocação dos países em cada quesito.
Esse levantamento inclui não apenas países da OCDE, mas também atuais parceiros da organização, como Brasil, Rússia e África do Sul. O último relatório publicado é de 2017.
No quesito emprego, o Brasil aparece na 38ª posição entre 40 países. Os dois países com posições piores são África do Sul (que não faz parte da OCDE) e a Grécia.
O ranking leva em conta não só a taxa de desemprego, mas também a segurança no emprego e os rendimentos.
O relatório aponta que o percentual da força de trabalho desempregada há no mínimo um ano no Brasil é superior à média da OCDE, e que os brasileiros recebem menos que a média dos países da organização.
Além disso, o documento indica que “no Brasil, os trabalhadores estão sujeitos a uma perda maior de seus rendimentos se ficarem desempregados em relação à média da OCDE”.
Islândia, Suíça e Luxemburgo aparecem nas três primeiras colocações no quesito emprego.
3. Educação
Na educação, o Brasil também aparece na 38ª posição entre 40 países, à frente apenas de México e Colômbia.
É levado em consideração não só o nível de escolaridade, mas também desempenho dos alunos e anos de escolaridade.
Finlândia, Austrália e Estônia aparecem do outro lado, como os três melhores colocados.
4. Saúde
Na saúde, o Brasil aparece na 27ª colocação. O indicador leva em conta a expectativa de vida e o estado de saúde informado pela população.
Os três piores são África do Sul, Rússia e Lituânia. Nas primeiras colocações estão, respectivamente, Canadá, Nova Zelândia e Austrália.
O relatório da OCDE aponta que a expectativa de vida no Brasil ao nascer é de quase 75 anos, cinco anos a menos que a média da OCDE.
“Maior expectativa de vida está geralmente associada a maior gasto com assistência médica por pessoa, embora muitos outros fatores como padrão de vida, estilo de vida, educação e fatores ambientais também tenham impacto na expectativa de vida”, aponta a OCDE.
Por outro lado, ao responderem a pergunta “Como está a sua saúde em geral?”, mais pessoas no Brasil disseram que a saúde estava boa do que a média da OCDE de 69%. “Apesar da natureza subjetiva da pergunta, considera-se que as respostas recebidas sejam bons prognosticadores do uso futuro de assistência médica por parte dos indivíduos.”
5. Segurança
Em segurança, o Brasil é o último colocado do ranking, atrás inclusive dos países que costumam figurar entre os últimos colocados em outros quesitos, como África do Sul, Colômbia, México, Chile e Rússia.
A OCDE aponta que “no Brasil, cerca de 36% das pessoas dizem que se sentem seguras andando sozinhas à noite, muito abaixo da média da OCDE, de 68%.”
E, segundo os últimos dados compilados pela organização, a taxa de homicídios do Brasil é mais de sete vezes a média da OCDE.
Noruega, Islândia e Eslovênia são os três países com melhores condições de segurança no ranking.
Fonte: BBC News Brasil
Data original da publicação: 16/01/2020