Elaborado por Thomas Blanchet, Lucas Chancel e Amory Gethim, o estudo publicado esta semana pelo Laboratório Mundial da Desigualdade introduz uma nova metodologia que faz a análise sistemática do rendimento antes e depois de impostos de cada classe de rendimentos em cada país, permitindo assim perceber o efeito dos diferentes sistemas de redistribuição no fosso de rendimentos.
“É a primeira vez que todas as fontes sobre distribuição de rendimentos — inquéritos e dados sobre impostos e contas nacionais — são utilizados e combinados através de uma metodologia consistente. Assim, somos agora capazes de seguir a forma como o crescimento do rendimento nacional foi distribuído nas últimas quatro décadas com maior precisão do que antes, em particular para os rendimentos mais altos”, afirma Thomas Blanchet. Sem surpresa, são os países da Europa do Norte que revelam maior eficiência na redistribuição do rendimento.
#Inequalities in Europe | La lutte contre les inégalités passe par des systèmes de prédistribution efficaces (accès à l’éducation, à la santé, revenu minimum, etc.). Les pays les + performants sont les pays du Nord (cf barres bleues).
➡ https://t.co/8HgJGChmmW pic.twitter.com/4wRAbeuwBy— World Inequality Lab | WID.world (@WIL_inequality) 2 de abril de 2019
E o que dizem os números? A desigualdade de rendimentos tem vindo a aumentar na Europa desde 1980, embora de forma menos pronunciada do que nos Estados Unidos. Os 0.001% europeus mais ricos viram o seu rendimento crescer 200%, ou seja, cinco vezes mais depressa do que os 80% com menos rendimento, que aumentou 40% no mesmo período.
A maior resiliência do modelo europeu em comparação com os EUA “deve-se mais à maior igualdade do rendimento antes de impostos (nomeadamente através dos serviços públicos) do que à eficiência do sistema redistributivo fiscal”, aponta o relatório. Amory Gethin sublinha que “os salários mínimos, proteção social, saúde universal e acesso igual à educação são a chave para assegurar um crescimento mais inclusivo”.
“É preciso assegurar que as multinacionais e os indivíduos ricos pagam a sua fatia justa de impostos”
Para Lucas Chancel, este estudo mostra que “as desigualdades entre os cidadãos europeus são essencialmente um assunto interno de cada país — há alemães pobres e gregos ricos. A questão principal não é então o aumento das transferências entre países europeus, mas como esses países se coordenam para se assegurarem que as multinacionais e os indivíduos ricos pagam a sua fatia justa de impostos — de forma a financiarem adequadamente os serviços públicos que são a base fundamental do modelo social europeu”.