A disparidade de renda que atinge as maiores cidades do Estados Unidos não é só relacionada a um contracheque cada vez mais recheado para aqueles que ganham mais. Há o problema da queda no pagamento dos mais pobres. Nacionalmente, os 5% mais ricos ganharam 9,3 vezes mais do que os 20% mais pobres em 2014, aponta análise da Brookings Institution, think tank em Washington, divulgada nesta quinta-feira. Antes da crise de 2008, a proporção era 8,5 vezes.
A maioria das famílias mais pobres ainda ganha apenas uma fração do recebiam antes da crise financeira começar em 2007. Mesmo com sinais de recuperação em 2014 com crescimento do emprego, a renda para dos 20% mais pobres caiu em Nova York, Nova Orleans, Cincinnati, Washington e Saint Louis, de acordo com a análise de dados.
— Trata-se dos pobres perdendo espaço mais do que as famílias de classe alta se afastando — afirmou Alan Berube, um membro sênior da Brookings e vice-diretor do programa de política metropolitana.
A cidade de Cincinnati, por exemplo: sede de grandes companhias como P&G e Macy’s, associadas à prosperidade da classe média. Os 20% mais pobres ganharam US$ 10.454 em 2014. Corrigido pela inflação, isso equivale a 3% menos do que receberam em 2013 – e 25% a menos do que ganhavam antes da crise. Já os 5% mais ricos de Cincinnati ganharam pelo menos 164.410 em 2014, dado que aumentou com relação a 2013, ainda que permaneça 7% abaixo dos níveis pré-recessão.
A consequência é uma disparidade de renda maior. Os 5% mais ricos ganharam 15,7 vezes mais do que os 20% mais pobres em Cincinnati.
Boston: a maior desigualdade
Os mais pobres começaram a recuperar parte do poder aquisitivo desde que a economia começou a se recuperar oficialmente há seis anos e meio. Mas a análise da instituição sugere que o forte crescimento do emprego e aumentos modestos de salário não conseguiram puxar milhões de americanos de volta à escada econômica.
A Brookings Institution aponta que a desigualdade de renda foi maior em Boston, onde os 5% mais ricos ganham 17,8 vezes mais do que os 20% mais pobres. Mas a diferença parece refletir a ampla população de estudantes universitários em uma cidade que abriga a Universidade de Harvard e o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e outras instituições de ensino de ponta.
Nova Orleans, onde a remuneração dos mais pobres também caiu, teve a segunda pior proporção entre as classes sociais: 17,7. Atlanta vem em terceiro lugar (17,5) e Cincinnati em quatro. No outro extremo, a renda dos mais pobres subiu em Provo, no estado de Utah, onde a proporção entre as classes é de 7,8. O dado também registrou melhora acentuada em Denver apesar dos níveis acima da média de desigualdade na região.
A persistente disparidade de renda se tornou visível no mercado imobiliário. A Brookings afirma que os 20% mais pobres moradores de Washington – que ganharam 21.230 em 2014 – precisariam gastar metade do dinheiro que recebem em moradia.
A análise ainda mostra que 11,4 milhões de famílias – cerca de 26,4% moradores de aluguéis – destinaram metade de suas rendas ao aluguel, fatia que aumentou na última década. O aluguel médio mensal de uma apartamento recém-construído era de US$ 1.372 em 2014, cerca de US$ 500 dos inquilinos podiam pagar.
Pedidos de seguro-desemprego aumentam
O número de norte-americanos que entraram com pedido de auxílio-desemprego na semana passada subiu inesperadamente, mas continuou dentro do nível associado a um mercado de trabalho saudável. Outros dados divulgados nesta quinta-feira mostraram que os preços dos importados caíram em dezembro pelo sexto mês seguido, com o custo do petróleo e de uma gama de outros bens recuando ainda mais, o que sugere que o ambiente de inflação fraca pode persistir no curto prazo.
O número de pedidos iniciais de auxílio-desemprego aumentou em 7 mil, para um número sazonalmente ajustado de 284 mil, na semana encerrada no dia 9 de janeiro, disse o Departamento do Trabalho. Ainda assim, essa foi a 45ª semana consecutiva em que os pedidos ficaram abaixo da marca de 300 mil, que é associada com condições fortes do mercado de trabalho. Esse é o período mais longo dentro dessa marca desde o começo dos anos 1970.
Economistas previam que os pedidos cairiam para 275 mil na semana passada. O aumento provavelmente reflete mais uma volatilidade do que uma mudança das condições do mercado de trabalho, já que é difícil ajustar os dados durante os períodos de férias. Os pedidos também tendem a aumentar no começo de cada trimestre.
O mercado de trabalho tem dado de ombros à fraqueza da economia, com a criação de vagas subindo em dezembro. O crescimento econômico tem sido afetado pelo dólar forte, desaceleração da demanda global, esforços de empresas para reduzir o excesso de estoques e cortes de gastos por empresas de energia.
Em outro relatório, o Departamento do Trabalho disse que os preços dos importados caíram 1,2% no mês passado, após recuarem 0,5% em novembro. Os preços dos importados agora caíram em 16 dos últimos 18 meses, um sinal de que continuarão a pesar sobre os preços dos bens de consumo. Para o ano de 2015 inteiro, os preços dos importados caíram 8,2%.
O dólar forte e a queda profunda dos preços do petróleo estão mantendo a inflação dos importados baixa, deixando a inflação geral bem abaixo da meta do Federal Reserve, banco central do país, de 2%.
Fonte: O Globo
Data original da publicação: 14/01/2016