Apesar do novo recorde de desemprego na França, com mais 60 mil casos em setembro, o governo faz questão de fazer caso omisso à realidade e reitera o empenho em reverter essa tendência antes do fim do ano.
O otimismo das mais altas figuras do executivo, como o presidente François Hollande e o premiê Jean-Marc Ayrault, não só se choca com as estatísticas, como também com a opinião de especialistas na matéria.
Com a exceção de agosto, quando uma falha informática alterou ps números, o desemprego cresce na França com maior ou menor ritmo há quase 28 meses e na atualidade afeta a mais de 3 milhões e 290 mil pessoas em idade trabalhista.
Se forem acrescentados quem trabalha algumas horas ou recebe salários reduzidos, o fenômeno aumenta até 4 milhões e 800 mil.
De acordo com o Observatório Francês de Conjunturas Econômicas (OFCE), nada indica atualmente que essa tendência vá mudar em um prazo imediato, ou pelo menos nos dois meses que faltam para o fim do ano.
O Produto Interno Bruto (PIB) crescerá em 2013 só 0,2%, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos, uma projeção avalizada pelo Fundo Monetário Internacional.
Menos pessimista, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico diz que o PIB francês pode chegar até 0,3%.
Em qualquer dos dois cenários, no entanto, o OFCE considera esses números insuficientes para melhorar o mercado de trabalho e recorda que só se pode começar a gerar novos empregos com um crescimento sustentado de 1,5%.
Uma mostra clara da complexa situação da economia francesa é o elevado número de empresas que se declaram em bancarrota ou aplicam severos cortes de pessoal para evitar a queda de suas utilidades.
Os sindicatos da região de Bretanha falam de um tsunami ou uma hecatombe no emprego depois do fechamento de numerosas plantas, enquanto os operários da PSA Peugeot Citroen entregaram na sexta-feira (25) o último veículo produzido na fábrica de Aulnay-sous-Bois, onde três mil postos serão suprimidos.
Neste horizonte, chama a atenção que Hollande e Ayrault fizessem questão nas últimas horas em uma suposta melhoria na luta contra o desemprego e afirmassem que ainda é possível atingir a meta de reverter a situação neste ano.
“Os números ruins não devem ser um pretexto para nos tirar a confiança, senão ao invés”, disse Ayrault diante um grupo de jovens beneficiados pelo programa governamental Empregos do Futuro.
Enquanto que o presidente Hollande declarou, ao finalizar a cúpula de outono da União Europeia, que “ainda é cedo, mas há uma evidente desaceleração do desemprego”.
Talvez para não se mostrar tão afastado da realidade, o mandatário agregou que “quanto mais forte for o reativamento econômico, e no momento é muito tímido, maior será o investimento da curva do desemprego”.
O caso é que o tempo se esgota para o governo diante dos dois maiores compromissos antes das urnas do próximo ano: as eleições municipais de março e as do Parlamento Europeu em maio.
Tanto o presidente como o premiê chegam a esses eventos com os mais baixos índices de popularidade na chamada V República, iniciada em 1958.
Ainda que as primeiras dessas eleições sejam votações locais, não há dúvida de que a má imagem do governo afeta em grande parte os candidatos do Partido Socialista (PS), que não têm muito para oferecer a seus seguidores.
Essas eleições, localizadas quase na metade do quinquênio, são consideradas como uma avaliação para as autoridades e um termômetro do que poderia ocorrer em 2017, quando voltará a estar em jogo o Palácio do Eliseu.
No caso da Eurocâmara, uma debacle do PS, como preveem as pesquisas que o situam em terceiro, atrás do ultradireitista Frente Nacional e da conservadora União por um Movimento Popular, confirmaria a pobre influência de Hollande no bloco regional.
Daí a insistência em esgotar até a última possibilidade para convencer a população sobre um eventual retrocesso do desemprego, ainda que se dê as costas a uma realidade bem mais sombria que as esperanças e o otimismo do governo.
Fonte: Prensa Latina, com ajustes
Data original da publicação: 26/10/2013