Os números da nova série da PNAD Covid-19, do IBGE, confirmam os efeitos mais perversos da crise precisamente sobre as faixas mais vulneráveis da sociedade.
Lauro Veiga Filho
Fonte: GGN
Data original da publicação: 28/07/2020
Os efeitos da crise sanitária vêm alargando as diferenças num País já extremamente desigual e o resultado tende a ser uma economia ainda mais injusta daqui para frente. O fim precoce do auxílio emergencial em agosto, em plena pandemia e sem a menor previsão de quando a Covid-19 poderá ser debelada, deverá apenas agravar o cenário no mercado de trabalho e em toda a economia, resultado da cegueira típica que move a equipe econômica em suas decisões.
Os números da nova série da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), conhecida como PNAD Covid-19, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmam os efeitos mais perversos da crise precisamente sobre as faixas mais vulneráveis da sociedade. Em junho, em torno de 955,07 mil pessoas perderam o emprego, já que o total de ocupados baixou de 84,404 milhões em maio para 83,449 milhões. As mulheres responderam por quase dois terços dessa redução, com o número de ocupadas baixando de 36,120 milhões para 35,536 milhões – o que correspondeu ao fechamento de 585,51 mil vagas (61,3% do total de ocupações perdidas no período).
A faixa etária entre 30 e 39 anos, que registrava 43,746 milhões de ocupações em maio, perdeu 511,186 mil empregos (53,5% das vagas encerradas de maio para junho), encolhendo para 43,235 milhões de ocupações. Proporcionalmente, foi o contingente mais afetado pelos cortes realizados pelas empresas, muitas das quais simplesmente desapareceram na crise e dificilmente conseguirão retornar ao mercado mais à frente. O número de informais ocupados, na contagem do IBGE, recuou de 29,263 milhões para menos de 29,003 milhões, significando perda de 260,16 mil empregos (menos 0,9%). Numa estimativa, conclui-se que o total de trabalhadores formais teria sido ainda mais sacrificado, encolhendo de 55,141 milhões para 54,446 milhões, com a demissão de 694,90 mil pessoas – o que, por sua vez, respondeu por 72,8% da redução observada para o total de pessoas ocupadas entre maio e junho.
Falsa igualdade
Num dado igualmente conhecido, o número de desempregados registrou acréscimo de 1,686 milhão de maio para junho, num salto de 16,65%, ao avançar de 10,129 milhões para 11,815 milhões. Analisado por gênero, o desemprego parece ter atingido mulheres e homens numa mesma intensidade, já que o total de desocupados apresentou crescimento em torno de 16,6% para ambas categorias. A contribuição para o aumento do desemprego, da mesma forma, ficou próximo de 49,4% para as mulheres (mais 833,21 mil desempregadas, com o total elevando-se para 5,846 milhões) e de 50,6% para os homens (acréscimo de 852,99 mil na fila do desemprego, com o total de desocupados passando para 5,969 milhões). Uma falsa “igualdade”, já que a taxa de desemprego para as mulheres subiu de 12,2% para 14,1%, enquanto atingia 11,1% no caso dos homens (saindo de 9,6% em maio).
Na avaliação por raça, as distâncias são enormes e mostram tendência ao agravamento, ressalte-se. A população negra (o que inclui pessoas “pardas”, na classificação do IBGE) já respondia por 59,3% do total de desocupados em maio e aumentou sua fatia para 60,3% em junho, com salto de 18,6% no total de desempregados. O número de desocupados aqui aumentou de 6,008 milhões para 7,126 milhões, quer dizer, 1,117 milhão a mais. Feitas as contas, os negros responderam por dois terços (66,3%) do aumento registrado pelo desemprego entre os dois meses analisados. A taxa de desocupação entre trabalhadores negros, que já era superior à média observada para o total de ocupados, elevou-se de 12,0% para praticamente 14,0%.
Menor qualificação
As demissões alcançaram mais duramente também os trabalhadores com menor nível de instrução. Perto de 90,0% do crescimento experimentado pelo número de desocupados podem ser explicados pelas demissões de pessoas sem instrução, com formação média e com ensino superior incompleto. Somadas, essas categorias responderam por 1,517 milhão de “novos desempregados”.
Entre aqueles, a contribuição maior veio da categoria formada por trabalhadores com ensino médio completo e superior incompleto, que passou a contar 5,578 milhões de desocupados frente a 4,760 milhões em maio, somando mais 818,30 mil desempregados (48,5% do aumento geral).
As pessoas sem instrução, com ensino fundamental completo e médio incompleto responderam por 41,5% do aumento no número de desempregados, que saiu de 4,182 milhões para 4,882 milhões (mais 699,52 mil) apenas nesta categoria.
O número de desocupados com idade entre 14 e 29 anos cresceu 16,2%, saindo de 4,856 milhões para 5,630 milhões (quer dizer, 784,37 mil a mais), e a taxa de desemprego nesta faixa avançou de 18,4% para 21,0%. Mais elevada entre todas as categorias acompanhadas pela pesquisa. Isso significa que um quinto dos trabalhadores mais jovens não conseguiram alguma colocação em junho. O desemprego persistente nesta área contribui para perpetuar graves distorções, ao sacrificar precisamente uma parte da população que busca o primeiro emprego.
Na faixa seguinte, que inclui trabalhadores com idades entre 30 e 39 anos, o número de desempregados cresceu de 3,867 milhões para 4,628 milhões, num acréscimo de 761,11 mil (mais 19,7%). Ou seja, esse contingente contribuiu em quase 45,1% para o aumento do desemprego geral. Embora com tendência de alta, a taxa de desocupação nesta faixa tem sido mais baixa, comparando-se com as demais categorias, variando de 8,1% para 9,7% entre maio e junho.