CTB busca agenda unitária para as centrais sindicais, garante Vidor

Fotografia: Assessoria de Imprensa CTB-RS

por Charles Soveral

Vice-presidente da Federação do Comércio de Bens e Serviços (Fecosul) e presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) no Rio Grande do Sul, Guiomar Vidor defende a construção de uma agenda unitária das centrais sindicais, que tenha por objetivo o enfrentamento à crise do capitalismo. “Através da defesa de um projeto nacional e estadual de desenvolvimento com ênfase na valorização do trabalho. Neste contexto, estão incluídas a luta contra o processo de desindustrialização que exige uma redução mais drástica na taxa de juros e controle do câmbio, a jornada de 40 horas, o fim do fator previdenciário, a regulamentação da terceirização, reforma agrária e urbana, aprovação da convenção 158 da OIT e a valorização do salário mínimo, além de valorização no piso regional e das aposentadorias.”

Para Vidor, o desafio é pressionar cada vez mais o Estado para que ele assuma o papel de indutor do processo de desenvolvimento e de distribuição de renda. O líder sindical destaca que as relações do trabalho sofreram significativas mudanças nos últimos anos. Ele explica que essas mudanças foram introduzidas na organização do trabalho, que busca mais produtividade e um controle ideológico sobre os trabalhadores, além de estabelecer uma lógica de diminuição dos custos com aumento da lucratividade. “Isso através do aviltamento do trabalho, comandado pela precarização e a terceirização que foi a regra no período do presidente Fernando Henrique. Até hoje enfrentamos as consequências do impacto ideológico ocorrido com a queda do muro em 1989 e a crise do socialismo que atingiu o conjunto dos trabalhadores públicos e privados e sua organização, dando ênfase à individualidade, à luta pelo eu e não mais pelo coletivo. Este processo começa a ser revertido, mas o caminho ainda será longo”, assinala o presidente da CTB-RS.

Ao defender a militância política dos sindicalistas, pois, segundo ele, a luta sindical e a defesa dos direitos dos trabalhadores são uma luta política, Vidor frisa que é preciso distinguir partido de sindicato. “O partido representa uma parte, uma posição ideológica. Um sindicato deve representar o todo, o conjunto dos trabalhadores, independentemente de suas convicções políticas, ideológicas ou religiosas, pois os interesses de uma categoria são homogêneos e estão acima de outras divergências. O sindicato deve ser preservado como um instrumento da luta dos trabalhadores, com autonomia frente a partidos e, principalmente, neste novo momento em que vivemos, frente aos Governos, quer sejam mais ou menos progressistas”, argumenta ele.

Sobre a participação de sindicalistas nas estruturas governamentais, um fenômeno constante a partir do governo do presidente Lula, Vidor explica que este foi um dos motivos que o levou a sair da Central Única dos Trabalhadores (CUT). “Ex-presidentes e dirigentes da Central assumiram cargos de alto escalão no Governo Lula, e a mesma passou de forma sintomática a adotar um comportamento mais arrefecido, menos combativo, de forma a amenizar suas críticas. Foi assim na reforma da previdência pública, na luta pelo fim do fator previdenciário e de uma política de reajuste para os aposentados, na antecipação do reajuste do salário mínimo em 2010, dentre outros.”

Guiomar Vidor acredita que a presença de governos mais identificados com os trabalhadores, como ocorre no Brasil desde os anos 2000, abre um espaço para que o movimento seja mais propositivo na perspectiva da conquista de bandeiras históricas dos trabalhadores. Ele acredita que este é o momento de buscar a reversão das perdas que tivemos (tivemos quem?) no período de governos neoliberais. “Agora, o que não podemos perder de vista é a autonomia e independência do movimento frente aos governos. Apoiar quando forem medidas positivas e criticar quando forem contra os interesses dos trabalhadores.”

Ao comentar a fracassada tentativa de reforma sindical, Guiomar Vidor entende que os principais obstáculos foram o direito de organização no local de trabalho, rejeitado pelos patrões e que, para a CTB, é ponto fundamental na organização da luta dos trabalhadores, e porque a maioria do movimento se contrapôs à proposta de pluralidade sindical, defendida pela CUT. “Esta questão é um tanto polêmica entre as centrais sindicais. Nós, da CTB, somos a favor da unicidade sindical e contra a convenção 87 da OIT. Entendemos que a unicidade é, para a realidade do Brasil, a melhor forma de organização, garante a unidade dos trabalhadores na base. Precisamos construir um consenso entre as centrais, que leve em conta a preservação da unicidade, direito de organização nos locais de trabalho, de autonomia no financiamento das entidades sindicais e de um código eleitoral que estabeleça regras democráticas.”

Vidor diz que o sindicalismo brasileiro comparado com o sindicalismo mundial, mesmo diante de todas as dificuldades e problemas, é mais avançado do ponto de vista da organização e luta em defesa da classe trabalhadora. “O sindicalismo brasileiro teve papel fundamental na luta contra a implantação do projeto neoliberal e na derrota eleitoral do neoliberalismo em nosso país. Precisamos avançar na consolidação de uma unidade de ação por um projeto unitário das centrais sindicais em defesa dos direitos sociais e de um projeto de desenvolvimento soberano e democrático para o país, conforme resolução da CONCLAT, realizada em 2010.”

Vidor afirma que há uma compreensão cada vez maior da necessidade da união entre o movimento sindical e os movimentos sociais na luta por transformações sociais mais profundas no Brasil. A Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) tem conseguido costurar esta unidade, principalmente com os movimentos mais progressistas da sociedade. “Acredito que um dos maiores desafios da classe trabalhadora para o próximo período é a construção de uma unidade mais sólida do conjunto da classe na luta por transformações econômicas e sociais mais profundas no Brasil. Iniciamos um ciclo de mudanças com o governo Lula que precisa ser aprofundado. Para que isso ocorra, precisamos colocar os trabalhadores como protagonistas destas mudanças, pois são eles os maiores interessados em construir um Brasil soberano, democrático e com justiça social”, conclui Vidor.

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