Crise expõe realidade perversa e deixa jovens sem emprego no país

Um dos indicadores da economia que mais traduz a ideia de mal-estar, o desemprego atinge primeiro e com intensidade os mais jovens, que enfrentam mercado hostil e uma taxa equivalente ao dobro da média para toda a população. No Brasil, praticamente um a cada cinco jovens está desempregado. A redução nos postos de trabalho tem impacto na renda e no sonho de manter a qualificação, ponte para fugir da roda-viva de baixos salários. A proporção de desempregados de quase 20% no grupo de brasileiros de 18 a 24 anos é mais de duas vezes a média de 7,9%.

Em Minas, o percentual de jovens desocupados soma 14%, mais que o dobro da média geral do indicador, de 6,5%, segundo dados de outubro, os últimos disponíveis, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na Grande Belo Horizonte, a taxa entre jovens praticamente dobrou nos últimos 12 meses terminados em outubro, passando de 7,6% para 14,1%. São 53 mil pessoas em busca de uma colocação. Ana Carolina dos Reis, de 20 anos, é uma delas. Ela completou o ensino médio e tem um pouco de experiência no comércio. No momento, busca emprego com carteira como operadora de caixa ou balconista, mas está difícil, confessa.

“Com essa crise, a oferta de emprego caiu muito”, constata Ana Carolina, que deixou o emprego há pouco mais de um mês. Na família dela, todos com idade ativa estão desempregados. A mãe, empregada doméstica, e o padrastro, soldador na construção civil, decidiram ir de mudança para a Bahia, onde têm esperança de conseguir o trabalho que não apareceu por aqui. “Espero conseguir um trabalho este mês. Preciso trabalhar para pagar minhas despesas”, diz Ana, com o currículo nas mãos e disposta a reduzir a pretensão salarial, que inicialmente era de R$ 1,2 mil.

Alguns fatores contribuem para pressionar o mercado de trabalho para os mais novos, como a experiência e a rotatividade. A experiência menor reduz as chances de contratação. Os estreantes geralmente têm como primeiro emprego um trabalho que não querem seguir pela vida inteira. “Os jovens têm a característica de querer testar o mercado”, diz o professor de economia da UFMG Mário Rodarte, especialista em mercado de trabalho. Segundo ele, a crise econômica do país agravada pela desaceleração da economia mundial piora o indicador, já que a primeira reação das empresas, diante da turbulência, é reduzir as admissões, o que tem impacto direto na mão de obra que está entrando no mercado.

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O especialista destaca dois fatores muito preocupantes. Um deles é o desperdício do capital humano, com a protelação de planos de carreira e qualificação, o que faz o país perder em produtividade e competitividade tanto no mercado interno, quanto na disputa por fatias no comércio mundial. Outro aspecto é que uma piora do mercado de trabalho pressiona os rendimentos, e pode fazer crescer o desemprego entre os mais velhos, fazendo os jovens que hoje estudam ser chamados a ajudar nas despesas da casa. “Ainda é cedo para pensar como vai evoluir o cenário do emprego, mas os jovens podem levar a um efeito multiplicador do desemprego quando deixam de estudar para procurar trabalho.”

A economista e membro do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG) Tania Teixeira lembra que o trabalho dos jovens é também a ponta mais frágil do mercado, já que essa mão de obra tem rendimentos menores, maior flexibilidade e, ainda, condições piores de trabalho. Como o país tem uma faixa grande da população em idade ativa, a preocupação com a qualidade do trabalho para os jovens é pequena e as políticas para garantir sua inserção no mercado de trabalho com melhor qualificação são insuficientes. “Mundialmente, existe uma preocupação com a precarização do trabalho dos jovens, que se agrava em períodos de crescimento do desemprego. Essa precarização impede que eles cresçam, melhorando suas expectativas e colocação no mercado de trabalho.”

Fonte: Estado de Minas
Texto: Marinella castro
Data original da publicação: 13/12/2015

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