Robert Reich
Fonte: Diário do Centro do Mundo
Data original de publicação: 05/02/2013
Originalmente publicado em inglês no site do autor em 28/01/2013 e no site Common Dreams em 29/01/2013
Como o presidente Obama disse em seu discurso de posse, os Estados Unidos “não podem ter sucesso quando poucos enriquecem cada vez mais e muitos mal sobrevivem”.
No entanto, essa continua sendo a direção que seguimos.
Uma análise recém-divulgada pelo Instituto de Política Econômica mostra que os super-ricos têm tido um bom desempenho na recuperação econômica, enquanto quase todos os outros vão mal. Um por cento dos assalariados viu seu salário crescer 8,2% de 2009 a 2011, mas os salários anuais de 90% dos americanos continuaram a declinar na recuperação.
Em outras palavras, estamos de volta à desigualdade anterior à bolha que explodiu em 2008.
Mas o presidente está certo. Nem mesmo os muito ricos podem continuar a ter êxito sem uma prosperidade mais ampla. Isso porque 70% da atividade econômica nos Estados Unidos é o consumo. Se os 90% estão cada vez mais pobres, eles são menos capazes de gastar. Sem seus gastos, a economia não sai da primeira marcha.
Essa é uma grande razão pela qual a recuperação continua a ser anêmica, e por que o Fundo Monetário Internacional reduziu sua estimativa para o crescimento dos EUA em 2013 para apenas 2%.
Quase um quarto de todos os empregos nos Estados Unidos pagam salários abaixo da linha de pobreza para uma família de quatro pessoas. O Bureau of Labor Statistics estima que o crescimento para a próxima década será de baixos salários – como servir clientes em grandes redes varejistas e cadeias de fast-food.
Americanos ricos estariam melhores com partes menores de uma economia em rápido crescimento, do que com os grandes pedaços que agora possuem de uma economia que está mal se movendo.
Neste ritmo, quem é que vai comprar todos os bens e serviços que a América é capaz de produzir? Nós não podemos voltar para o tipo do débito financiado que causou a bolha, em primeiro lugar.
Se fossem racionais, os ricos iriam apoiar investimentos públicos em educação e formação profissional, uma infra-estrutura de classe mundial (transporte, água e esgoto, energia, internet), e pesquisa básica – que faria a força de trabalho americana mais produtiva.
Se fossem racionais, eles até mesmo apoiariam os sindicatos. Mas os sindicatos estão quase extintos.
O declínio dos sindicatos na América segue exatamente o declínio da classe média.
Na década de 1950, quando a economia dos EUA estava crescendo mais rápido do que 3% ao ano, mais de um terço de todas as pessoas que trabalham pertencia a um sindicato. Isso lhes deu cacife de negociação suficiente para obter salários que lhes permitiram comprar o que a economia foi capaz de produzir.
Desde o final de 1970, os sindicatos têm corroído – como corroeu o poder de compra da maioria dos americanos, e não por coincidência, o crescimento médio anual da economia.
De quem é a culpa? Parcialmente da globalização e das mudanças tecnológicas. A globalização enviou muitos trabalhadores para o exterior.
A fabricação está começando a voltar para a América, mas está retornando sem muitos empregos. A linha de montagem foi substituída pela robótica e por máquinas-ferramentas de comando digital.
As tecnologias também substituíram muitos ex-trabalhadores sindicalizados em telecomunicações (lembra-se das operadoras de telefonia?).
Mas espere um pouco. Outras nações sujeitas às mesmas forças têm níveis muito mais elevados de sindicalização do que a América. 28% da força de trabalho do Canadá é sindicalizada, como mais de 25% na Grã-Bretanha e quase 20% na Alemanha.
Os sindicatos estão quase extintos na América porque nós escolhemos isso.
Ao contrário de outros países ricos, nossas leis trabalhistas permitem que os empregadores possam substituir trabalhadores em greve. Nós também tornamos extremamente difícil para os trabalhadores se organizarem e mal penalizamos as empresas que violam as leis trabalhistas.
O salário médio de um trabalhador do Walmart é de 8,81 dólares por hora. Um terço dos empregados do Walmart trabalham menos de 28 horas por semana e não se qualificam para os benefícios.
O Walmart é um microcosmo da economia americana, que descaradamente lutou contra os sindicatos. Mas poderia facilmente pagar mais a seus funcionários. Ganhou 16 bilhões de dólares no ano passado. Grande parte dessa quantia foi para os acionistas do Walmart, incluindo a família de seu fundador, Sam Walton.
A riqueza da família Walton agora excede a riqueza de 40% das famílias americanas combinadas, de acordo com uma análise do Instituto de Política Econômica.
Mas como o Walmart espera continuar lucrando quando a maioria de seus clientes está descendo uma escada rolante econômica?
O Walmart deve ser sindicalizado. Assim como o McDonalds. Assim como cada varejista e rede de fast-food do país. Assim como todos os hospitais nos Estados Unidos.
Dessa forma, mais americanos terão bastante dinheiro em seus bolsos para colocar a economia em movimento. E todos – mesmo os muito ricos – serão beneficiados.
Como disse Obama, a América não pode ter sucesso quando alguns poucos vão muito bem enquanto muitos mal sobrevivem.
Robert Reich é um dos comentaristas econômicos e políticos mais influentes dos Estados Unidos. Foi integrante do gabinete de três presidentes norte-americanos, o último dos quais Bill Clinton.