O Fundo Monetário Internacional continua com seu trabalho de Grilo Falante dos assuntos econômicos. E agora é a vez dos Estados Unidos e da França. Sobre a economia norte-americana, o Fundo alerta sobre “perniciosas tendências seculares na distribuição da renda”: a classe média caiu a níveis de três décadas atrás e a pobreza aumentou. Sobre a França, a instituição lembra que o país possui índices altos de desemprego de longa duração, apresenta baixas perspectivas de crescimento e uma dívida sobre o PIB que continua aumentando.
Não é de estranhar que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, admitisse em sua passagem pela Espanha que a desigualdade alimenta o populismo. Em seu relatório sobre a economia norte-americana, o FMI enumera um panorama desolador nesse aspecto: a pobreza continua aumentando, a classe média encolheu a níveis da década de oitenta, a distribuição da renda e da riqueza se encontra altamente polarizada, e a porcentagem de rendimentos do fator trabalho é 5% mais baixa do que há quinze anos. “Todos os avanços conseguidos para reduzir a pobreza desde os anos 90 se diluíram”, afirma.
Como se não bastasse, um em cada sete americanos vive em condições de pobreza e 40% dos pobres está trabalhando. “Se não forem interrompidas, essas forças continuarão derrubando o crescimento atual e potencial, diminuindo os ganhos em padrão de vida e aumentando a pobreza”, conclui o documento elaborado pelos homens de preto.
Diante da evidência, os diretores do Fundo pedem que os EUA adotem medidas para expandir os créditos fiscais destinados a moradias sociais, elevar o salário mínimo, estender os pagamentos por cuidar de familiares, investir em educação e reformar o imposto Social.
E não é só isso. O FMI alerta também de perigos no horizonte como um dólar em alta e a aversão ao risco dos investidores. Mas também sobre a possibilidade de que a economia norte-americana experimente um crescimento potencial mais baixo do que o esperado em um contexto de produtividade escassa e maior envelhecimento demográfico: “Se for verdade, isso significaria que a economia norte-americana logo pode sofrer limitações em seu crescimento que podem causar pressões inflacionistas com efeitos globais negativos”, frisa o Fundo. De modo que é preciso elevar o gasto em infraestrutura, investir mais em formação e educação de conhecimentos técnicos, reformar o sistema de saúde e de aposentadorias e aprovar uma reforma da imigração baseada nas capacidades. Em semelhante cenário, o Fundo pede ao Federal Reserve (Fed) que seja precavido e mantenha a todo o momento uma comunicação clara sobre o procedimento do aumento das taxas de juros.
Em relação à França, o órgão liderado por Christine Lagarde vê de forma positiva a reforma trabalhista francesa, que flexibiliza as relações de trabalho, ainda que seja aplicada em versão suave. Mas pede muito mais. Algo que se entende à luz das perspectivas de crescimentos retraídos que o FMI prevê para a economia francesa.
Por um lado, considera que é preciso adotar várias outras medidas para facilitar a criação de emprego. E por outro, critica que os esforços estruturais para baixar o déficit sejam próximos a zero: “Esforços mais ambiciosos para manter o gasto governamental plano em termos reais ajudariam a alcançar os objetivos fiscais a médio prazo e rebaixar de forma duradoura a dívida pública”.
As razões da desigualdade
A partir da década de 70, os rendimentos reais dos lares norte-americanos de classe média deixaram de subir, enquanto os das classes mais ricas tiveram uma aceleração a partir dos anos 90, explica o FMI. E essa tendência trouxe índices de consumo menores nos últimos 15 anos. De acordo com os especialistas do órgão, as razões são diversas e numerosas: a polarização do mercado de trabalho entre formados e não formados, a mudança de local de empresas responsáveis por muitas vagas de emprego, a concorrência salarial do exterior e uma queda progressiva do sistema fiscal, entre muitas outras.
Fonte: El País
Texto: Antonio Maqueda
Data original da publicação: 13/07/2016