O Texas, estado onde as cidades crescem mais rápido nos Estados Unidos, também é o que tem acidentes de trabalho na construção e onde as condições de trabalho e os salários são piores no setor.
Alguns operários e grupos de defesa dos trabalhadores se queixam dos baixos salários, jornadas sem pausas, falta de segurança e contratações irregulares no setor da construção civil no Texas, onde 60% dos empregados são hispânicos.
“Em 12 horas de trabalho, só tínhamos uma pausa, não nos davam água e, além disso, a companhia exigiu que comprássemos as ferramentas, como broxas, colete…”, disse à Agência Efe Heriberto Murillo, operário de 38 anos de origem mexicana.
Com dez anos de experiência na construção e tendo deixado seu posto de trabalho depois de um mês, Murillo se manifestou há poucos dias junto com outros trabalhadores e sindicalistas em frente a um arranha-céu em construção em Austin, capital do Texas.
Responsabilizam a empresa, de âmbito nacional, e seus provedores de não respeitar o mínimo de segurança: “Muita gente trabalhava sem instruções nem preparação, e algumas mulheres tinham que limpar vidros em uma fábrica, chovendo e sem uma cobertura”.
A diretora adjunta do grupo Workers Defense Project, Emily Timm, disse à Efe que o “Texas é o estado com maior mortalidade neste setor e, entre 2007 e 2012, morreu em média um trabalhador a cada 2,6 dias”.
Os guindastes e os ruídos de obra são frequentes em cidades como Austin, Dallas e Houston. O Texas concentra 10% do setor da construção civil dos Estados Unidos e 16% das licenças de novas obras, segundo o censo. Cerca de 950 mil trabalhadores se dedicam a este setor, 60% deles hispânicos.
Tanta atividade responde a uma demanda crescente, já que a população do Texas aumentou 25% entre 1997 e 2010 e o estado concentra quatro das dez áreas urbanas de crescimento demográfico mais rápido do país, segundo a revista “Forbes”.
O Escritório de Estatísticas Trabalhistas, com dados de 2012, situa a média salarial dos operários da construção no Texas em US$ 11,89 por hora, quase US$ 5 a menos que a média nacional no setor e US$ 11 a menos que o trabalhador médio americano.
“Nós trabalhávamos de sete da manhã a uma da tarde sem nenhum intervalo, quando deveríamos ter tido uma pausa a cada quatro horas para beber água”, explicou José Pérez, de 41 anos, terceirizado na mesma obra no centro de Austin.
O último relatório da Workers Defense Project, de 2013 e baseado em pesquisa com 1.194 trabalhadores, indicou que metade dos empregados não cobravam as horas extras e que pelo menos um terço dos operários não recebem água da empresa nem fazem pausas durante a jornada de trabalho.
Segundo a diretora adjunta da entidade, metade da força de trabalho na construção texana é composta de imigrantes ilegais, de acordo com um relatório nacional.
O presidente da Associação Geral de Contratistas de Austin, Phil Thoden, rebateu as críticas e defendeu que “a história real sobre nossa indústria local é que a cada mês milhões de horas são trabalhadas, de forma segura e com bons salários, para entregar projetos de alta qualidade que nossa crescente população requer”.
A patronal ressalta que o índice de mortalidade do Texas diminuiu drasticamente nos últimos anos e lembra que os descansos não são obrigatórios durante a jornada de trabalho nos EUA, embora haja uma legislação municipal em Austin que regule essa questão.
“Embora obviamente apoiemos firmemente os descansos para os trabalhadores, particularmente quando faz um calor extremo, reconhecemos que a Administração de Segurança e Saúde Ocupacional (OSHA) não os exige explicitamente”, comunicou por escrito o presidente dos empresários.
Fonte: Opera Mundi, com Agência EFE
Texto: Damià Bonmatí
Data original da publicação: 04/03/2014