O custo da mão de obra na China deve continuar avançando a um ritmo acima do crescimento da economia nos próximos anos. No início do mês, Pequim anunciou que pretende aumentar a média dos salários em 40% nos próximos dois anos para reduzir as diferenças sociais. Ao mesmo tempo, a população economicamente ativa chinesa diminuiu em 2012 pela primeira vez em muitos anos, o que indica uma inflexão no mercado de trabalho que, até então, era abundante em trabalhadores baratos.
A cúpula do governo chinês, o chamado Conselho de Estado, apresentou recentemente um amplo plano de 35 pontos para tentar melhorar a distribuição de renda no país. Entre as ações, a principal é o aumento dos salários urbanos em 40% até 2015. A medida tenta remediar um problema que crescente e que parece preocupar Pequim: apesar do fenomenal crescimento econômico, a diferença entre pobres e ricos aumentou nos últimos anos.
Os números sobre o tema são controversos, já que governo chinês não apresenta nada atualizado desde 2000. Mas cálculo da Agência de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) mostra que o índice de Gini chinês teria subido de 0,415 em 2007 para 0,48 em 2009.
Estudo independente da Universidade do Sudoeste de Chengdu mostra que a situação pode ser ainda pior: o indicador estaria em 0,61. O índice de Gini tenta medir a diferença social em uma sociedade. Com resultados que variam de zero a um, números mais próximos de um indicam que a sociedade é mais desigual.
No fim de janeiro, a percepção de que o custo da mão de obra vai seguir em alta foi reforçada com uma notícia inédita: o Escritório Nacional de Estatísticas anunciou que o número de chineses com idade economicamente ativa – entre 15 e 59 anos – caiu em 3,45 milhões em 2012, para 937,2 milhões de pessoas. Ao apresentar o dado, o diretor do instituto, Ma Jiantang, disse que é a primeira queda “em um período considerável de tempo” – sem detalhar o período. Ele comentou que o quadro mostra que o país começa a sentir os efeitos de uma mudança na taxa de natalidade. Segundo Jiantang, o grupo economicamente ativo deve diminuir “de forma constante e gradual” até “pelo menos” 2030.
Panos Mourdoukoutas, chefe do departamento de economia da Long Island University em Nova York, avalia que a mudança demográfica traz ao menos duas más notícias para a China. “No curto prazo, é esperado aumento real dos salários, o que gerará uma inflação maior e pode, eventualmente, forçar o Banco Central a aumentar o juro, dificultando o crescimento”, disse em artigo publicado no Wall Street Journal. “Salários maiores também diminuirão a vantagem competitiva da China na Ásia e companhias poderão ser forçadas a mudar para países com mão de obra mais barata, como o Vietnã.”
Pesquisa recente da Economist Intelligence Unit confirma que no custo de vida os valores já estão mais altos. Em um ano, Xangai saltou 11 posições e atualmente já é a 30.ª cidade mais cara do planeta. Com o aumento do custo de vida no último ano, viver na capital financeira chinesa é quase tão caro quanto viver em Nova York (27.º lugar no ranking) e já superou São Paulo (43.º lugar).
O responsável pela pesquisa, Jon Copestake, explicou ao China Daily que os custos têm subido na China pela demanda criada pelos reajustes salariais e o esforço do governo em manter a economia aquecida. “A China está se aproximando de outras economias e, por isso, fica mais cara. Poderia dizer que é o preço do sucesso”, disse.
Fonte: O Estado de S.Paulo
Texto: Fernando Nakagawa