Dirigentes de centrais sindicais voltarão a se reunir com o governo dentro de aproximadamente três semanas, e vão cobrar o Executivo quanto ao pacote de medidas apresentado no final de 2014, com mudanças no acesso a alguns benefícios trabalhistas e previdenciários. O anúncio causou mal-estar entre os sindicalistas, que não foi dissipado nem mesmo com o discurso de posse da presidenta Dilma Rousseff, dia 1º de janeiro, quando ela reassumiu compromisso com preservação de direitos sociais.
Para o presidente da CTB, Adilson Araújo, os primeiros indícios apontam um ano de “muita complexidade”. E a medida provisória com mudanças nos benefícios soou como “um balde de água fria” para os sindicalistas, apesar do discurso feito ontem. Ele avalia que os sinais vão no sentido “de que tudo será voltado para um ajuste fiscal, o governo vai fazer todos os esforços para a construção da chamada austeridade monetária”.
“Eu me preocupo que isso venha a resultar em cortes nos investimentos públicos e, consequentemente, em arrocho”, acrescenta Adilson, que apoiou a candidatura de Dilma e identificou na derrota de Aécio Neves (PSDB) o insucesso de um projeto que resultaria em perda de empregos e de renda e no fim da política de valorização do salário mínimo. Mas ainda há motivos para apreensão. “O mundo está diante de uma crise de grandes proporções, mas nós não podemos nos render ao discurso do mercado.”
O crescimento, sustenta o dirigente, deve vir por meio do fortalecimento dos programas sociais, da manutenção da política de valorização do salário mínimo (que vence este ano) e de investimentos em infraestrutura. “A presidenta Dilma tem de enxergar que seu primeiro grande teste de força é não romper com os movimentos sociais. O preço que a classe trabalhadora pode pegar em defesa do governo é lutar pela estabilidade, mas não podemos abrir mão de nossas conquistas. Precisamos pressionar o governo para estar cada vez mais próximos dos anseios da população.”
As centrais devem ser recebidas novamente pelo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, daqui a três semanas. Antes, até o próximo dia 15, devem se reunir para discutir estratégias e avaliar a conjuntura. A preocupação cresce à medida que se identifica um Congresso com perfil ainda mais conservador do que o atual, o que pode abrir caminho para iniciativas de retirada ou “flexibilização” de direitos.
O presidente da UGT, Ricardo Patah, que também apoiou a candidatura Dilma, disse ter se sentido “desconfortável” com as medidas anunciadas na semana passada, em uma reunião, segundo ele, em que as centrais foram apenas comunicadas da decisão e não para debater. Mesmo alguns dias antes da posse, Patah lembra que sindicalistas foram recebidos por Dilma, que não fez menção às propostas posteriormente anunciadas.
“Estamos conscientes sobre as dificuldades no aspecto macroeconômico. O governo tem de acertar pontos econômicos, mas nunca com retirada de direitos, conforme compromisso de campanha. A vaca tossiu, infelizmente”, diz Patah, em referência a frase de Dilma durante a campanha, sobre não retirar direitos “nem que a vaca tussa”. Na segunda-feira (5/01), a direção da UGT se reúne para avaliação do cenário.
Fonte: Rede Brasil Atual
Texto: Vitor Nuzzi
Data original da publicação: 02/01/2015