Catar expulsa trabalhadores migrantes por protesto contra salários em atraso

No domingo, dia 14 de agosto, cerca de 60 trabalhadores migrantes manifestaram-se em frente à sede da empresa Al Bandary, em Doha, um grupo que se dedica a negócios como a construção, a venda de imobiliário, a exploração de hotéis, restaurantes e outros serviços. Protestavam contra salários em atraso que chegavam a ser de sete meses e pararam por alguns momentos o trânsito em frente ao local. Segundo a Equidem, uma organização não governamental de proteção dos direitos humanos e laborais, vários destes manifestantes, oriundos do Nepal, Bangladeche, Índia, Egito e Filipinas, foram presos e depois expulsos do país pelas autoridades do Qatar.

O governo admitiu que houve prisões, mas diz que foram de “uma minoria” que teria “infringido as leis” do Qatar e avançou que os salários foram pagos a seguir à manifestação, tendo sido tomadas ainda “medidas”, não especificadas, conta a empresa.

O país que organiza o campeonato mundial de futebol, e que tem usado mão de obra imigrante intensiva para construir sete novos estádios, um novo aeroporto e muitas mais infraestruturas, é acusado de pagar baixos salários e oferecer péssimas condições de trabalho aos migrantes. Segundo o Guardian noticiou o ano passado, pelo menos 6.500 trabalhadores migrantes morreram no Qatar na última década.

A ofensiva mediática do governo tem tentado passar a ideia de que as condições de trabalho já melhoraram e que há agora um salário mínimo adequado mas as denúncias continuam. Os direitos de organização sindical e de livre reunião continuam a ser limitados. E grupos como a Amnistia Internacional e a Human Rigths Watch acusam o Qatar de trabalho forçado. Em abril, depois de uma investigação da Amnistia Internacional ter provado que havia trabalhadores no setor da segurança que trabalhavam mais de 60 horas por semana sem nenhuma folga durante meses ou até anos, a própria organização do Campeonato do Mundo de Futebol reconheceu a existência de condições “inaceitáveis” de exploração destes trabalhadores, mas remeteu as culpas para três empresas.

Já a Equidem, na sequência de um relatório de investigação amplo às condições de trabalho no Qatar, intitulado “Trabalhamos como robots” e publicado no final do mês de julho, continua a denunciar situações de abusos laborais, desta feita através de uma análise no terreno que documentou “violações significativas de direitos humanos e laborais” em 13 dos 17 grupos hoteleiros parceiros da FIFA.

Os factos vão desde assédio sexual, discriminações com base na nacionalidade e no género, roubo de salários, riscos sérios de saúde e segurança, despedimentos injustificados, entre outros. Os trabalhadores dizem-se também “alvo de intensa vigilância e controlo” por parte dos empregadores.

Fonte: Esquerda.net
Data original da publicação: 23/08/2022

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