Adriana Nalesso, presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, concedeu entrevista ao Brasil de Fato, explicando, entre outras coisas, as razões para a greve da categoria: “a proposta dos bancos foi rejeitada com unanimidade”.
“Banqueiros lucram tanto que, a cada cinco anos, podem comprar um banco do mesmo tamanho”, afirma a sindicalista. Apesar disso, Nalesso lembra que as condições de atendimento ao cliente estão piorando: “os bancos vêm fechando agências e obrigando as pessoas a usar serviços virtuais, tudo para diminuir custos. Por isso queremos abrir uma discussão com a sociedade brasileira sobre o papel dos bancos no nosso país”.
Confira abaixo a entrevista:
Brasil de Fato – Como estão as discussões a respeito da greve dos bancários? Já há uma definição quanto a esse tema?
Adriana Nalesso – Na última semana foram realizadas assembleias dos sindicatos dos bancários em todo o país. O objetivo era analisar a proposta dos bancos de aumento salarial de 5,5% e R$ 2.500 de abono. Essa proposta foi rejeitada com unanimidade pela categoria. Decidimos que vai ter greve a partir do dia 6 outubro.
O sindicato vem realizando caravanas. Como tem sido a experiência?
Nas caravanas, a gente passa as informações sobre a campanha salarial e o diálogo com os executivos dos bancos. É um processo de construção com os trabalhadores. A gente não entra em greve porque a gente quer, mas porque esse é um instrumento de luta para conquistar melhores salários e condições de trabalho.
Quais as principais reivindicações da categoria hoje?
Na questão da remuneração, pedimos aumento de 16%. E nossa principal reivindicação é em relação à saúde e condições de trabalho. Hoje os bancários são obrigados a cumprir metas abusivas que levam os trabalhadores ao afastamento por motivos de doenças. Queremos que os empresários revejam esse modelo. Também queremos mecanismos de garantia de emprego.
Os lucros dos bancos continuam crescendo?
Os banqueiros lucram mais a cada ano. Não tem crise no sistema financeiro. No ano passado, os bancos brasileiros lucraram R$ 37 bilhões. Esse valor corresponde a um aumento de 27% em relação a 2013. Todos os anos os lucros são superados. Eles lucram tanto que, a cada cinco anos, eles podem comprar um banco do mesmo tamanho. E os executivos ganham em média 420 mil reais ao mês.
O atendimento ao cliente está melhorando ou piorando?
Está piorando. Os bancos vêm fechando agências e obrigando as pessoas a usar serviços virtuais, tudo para diminuir custos. Por isso queremos abrir uma discussão com a sociedade brasileira sobre o papel dos bancos no nosso país. Para que servem e a quem servem os bancos.
Como está a questão do assédio moral? Esse sempre foi um problema denunciado pela categoria.
Continua sendo um problema grave. Os bancários vivem sob ameaça por conta das metas. Se ele não cumpre as metas ele é perseguido e vira alvo de ameaças. Agora nessa época de greve as ameaças se intensificam. Isso tem sido nocivo aos trabalhadores e aos clientes. O tempo todo o clientes são assediados a comprar produtos do banco.
Quanto aos riscos da profissão dos bancários, quais as reivindicações nessa área?
Esse é um debate que estamos travando na mesa de negociação. Os bancos têm condições de desenvolver melhores tecnologias de segurança. Para evitar sequestro de bancários, as empresas deveriam investir em aberturas remotas das agências, como já acontece na Caixa Econômica Federal.
Fonte: Brasil de Fato
Texto: Fabiana Rodrigues
Data original da publicação: 07/10/2015