Aumento do desemprego reforça momento de incerteza da economia brasileira

Os últimos números sobre o desemprego divulgados pelo IBGE acenderam a luz amarela no mercado de trabalho exatamente no momento mais delicado da economia brasileira – com a confiança do setor produtivo e do consumidor em baixa, a inflação elevada e o crescimento econômico desacelerado.

A taxa de desemprego surpreendeu ao subir de 5,8% em maio para 6% em junho – patamar mais alto desde abril de 2002. A última vez que o desemprego havia caído fora em dezembro do ano passado, quando atingiu a mínima histórica de 4,6%, alavancado por causa das festas de fim de ano. Mas, a partir daí, houve aumento pelo sexto mês consecutivo.

“Vínhamos com uma situação muito positiva, com baixo desemprego. Mas ele começa a dar um sinal que pode se ampliar”, afirma Celso Grisi, professor de economia da Fundação Instituto de Administração (FIA). “A economia não cresce, e o empresariado brasileiro não investe mais. Isso é bastante crítico, já que o crescimento da economia deverá ser modesto neste próximo período.”

Confiança em queda

Para especialistas, era de se esperar que o desemprego aumentasse depois de tanto tempo de baixa atividade econômica no Brasil. O País cresceu 0,9% em 2012, muito inferior aos 2,7% de 2011 e aos 7,5% de 2010. No primeiro trimestre de 2013, o País viu a soma de suas riquezas subir somente 0,6%.

No final de junho, o Banco Central (BC) havia revisado a expectativa de crescimento deste ano de 3,1% para 2,7%, confirmando então uma tendência de desaceleração do mercado de trabalho. De acordo com o Boletim Focus, do Banco Central – onde consta a previsão de economistas de instituições financeiras –, o País deverá crescer 2,2% neste ano.

“Eu não vejo como o governo reverteria esse quadro num curto prazo. Por um lado, há a confiança em queda do empresariado nacional quanto ao ambiente econômico do País. Por outro, você tem os consumidores que já foram suficientemente punidos pela alta inflação e que, agora, não têm mais recursos para sustentar um nível de consumo maior”, diz Grisi, que estima que a taxa de desemprego fechará 2013 perto de 6,8%.

Para Fernando Sarti, professor de economia da Unicamp, a retomada do crescimento terá que vir por meio do aumento da taxa de investimento. Caso contrário, o desemprego de 6% e a renda do trabalhador não devem se sustentar por muito tempo. “Os investimentos estimulariam o crescimento econômico, que, por sua vez, teria um efeito multiplicador sobre a renda e o emprego. Esse crescimento não tem mais como vir através do consumo.”

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, garante que não há risco de um ciclo de desemprego no Brasil e prevê que o emprego continuará crescendo no País, embora admita que o ritmo será menor que as taxas registradas nos últimos anos. Para ele, qualquer número próximo a 1 milhão de novos postos de trabalho com carteira assinada é excelente. O governo reviu para baixo, de 1,7 milhão para 1,4 milhão a previsão de criação de vagas formais neste ano.

Renda do brasileiro em queda

A pesquisa do IBGE mostrou, ainda, que o rendimento médio da população ocupada caiu 0,2% em junho em comparação a maio, alcançando 1.869,20 reais, a quarta queda mensal seguida. A renda foi principalmente corroída pela inflação, que alcançou o índice de 6,5% nos últimos 12 meses, acima da meta de 4,5% fixada pelo governo.

“A redução do crescimento impacta a geração do emprego e os trabalhadores não conseguem um reajuste tão significativo nas negociações salariais como num passado recente. Além disso, há a inflação que está batendo na meta do governo. Esses três fatores somados levam a uma queda da renda real”, afirma o economista Antonio Carlos Alves dos Santos, da PUC-SP.

Para piorar o panorama da economia brasileira, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou uma pesquisa na segunda-feira (29/07) que mostra que a confiança do consumidor continuou baixa em julho, depois de uma forte queda verificada em junho. De acordo com a instituição, a inflação e o desemprego representam a principal preocupação dos consumidores brasileiros.

Segundo especialistas, para o governo sair desta encruzilhada, ele deveria recuperar a credibilidade junto aos empresários, para que eles voltem a investir no País. Para alcançar esse objetivo, o governo precisa oferecer segurança jurídica e diminuir a intervenção do governo na vida econômica do País, além de cortar custos da máquina pública, fazendo com que tenha mais capacidade de investimento. O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, considerou nesta quinta-feira (01/08) bom o resultado da produção industrial nacional, que subiu 1,9% em junho em comparação a maio.

A produção industrial cresceu 3,1% em comparação a junho de 2012 e, no acumulado de 2013, a taxa de crescimento é de 1,9%. Para o presidente do BNDES, o crescimento de 1,9% frente a maio – quando a produção industrial caiu 1,8% – “revela que o estado de confiança das indústrias em planos de produção foi mantido”.

Fonte: Deutsche Welle
Texto: Fernando Caulyt
Data original da publicação: 01/08/013

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