Apesar de cerca de um bilhão de pessoas ter escapado da extrema pobreza nos últimos 20 anos e a mortalidade infantil e maternal ter sido cortada a quase metade, muito trabalho ainda deve ser feito no que concerne à desigualdade social, de acordo com um relatório publicado pela ONU (Organização das Nações Unidas), na quarta-feira (12/02). Para o órgão, ainda há muito a ser feito em se tratando de medidas que garantam os direitos e a dignidade de todos – especialmente de mulheres.
Elaborado pelo Fundo de População das Nações Unidas (FPNU), o relatório adverte que as crescentes desigualdades são o maior desafio que a humanidade enfrenta hoje em virtude de fenômenos como os impactos sociais e econômicos que a urbanização e a imigração proporcionaram, por exemplo.
“Nosso objetivo é oferecer direitos iguais e oportunidades a todos, para erradicar a extrema pobreza e iniciar um novo passo para o desenvolvimento sustentável”, declarou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, durante a conferência de apresentação do documento em Nova York.
“Empoderar as garotas e as mulheres é chave para garantir o bem-estar de indivíduos, famílias, nações e nosso mundo”, acrescentou Ban, enfatizando a importância da mulher. Aos olhos do secretário-geral da ONU, nas últimas duas décadas houve consideráveis avanços na igualdade, expectativa de vida, saúde e educação para as mulheres, mas “ainda há muito a ser feito”.
A apresentação do documento contou também com a presença do diretor-executivo do FPNU, Babatunde Osotimehin. Para ele, a crescente desigualdade entre ricos e pobres deixou um “enorme número de pessoas fora dos benefícios do desenvolvimento”.
“O relatório revela em detalhes as gritantes desigualdades persistentes e a discriminação, que ameaçam inviabilizar o desenvolvimento. Em muitos países e regiões, o progresso é limitado aos ricos com um número enorme de pessoas excluídas do processo e dos benefícios do desenvolvimento”, aponta. “Mais da metade dos ganhos absolutos na renda mundial entre 1988 e 2008 foi para os 5% mais ricos”, acrescenta.
Desafios da mulher
Entre os principais desafios referentes à mulher, Osotimehin nota, por exemplo, que cerca de 800 mulheres morrem diariamente tentando dar à luz; uma em cada três mulheres no mundo todo já experimentou abusos físicos ou sexuais; uma em cada três garotas se casam antes dos 18 anos em países em desenvolvimento, apesar de casamento entre menores ser proibido em 158 países. “Nas comunidades mais pobres, o status das mulheres, a morte materna, o casamento infantil tiveram muito pouco progresso ao longo das últimas duas décadas”, completou Osotimehin.
Segundo dados de 2010, 99% de toda a mortalidade materna acontecem nos países em desenvolvimento. Entre 1994 e 2014, as mortes de mulheres durante a gravidez e no parto diminuíram quase 50% em termos globais, mas em muitos países da África Subsaariana ela aumentou, devido também à propagação do vírus da Aids.
Histórico da conferência
O relatório repassa o formulado em 1994, durante a Conferência Internacional de População e Desenvolvimento (CIPD), realizada no Cairo. Na ocasião, a comunidade internacional chegou a um acordo de fórmulas para impulsionar a educação universal, reduzir a mortalidade infantil e materna e melhorar o acesso ao planejamento familiar e a saúde sexual no mundo todo. De acordo com a ONU, a cúpula foi “um marco na história da população e desenvolvimento, assim como na história dos direitos das mulheres”.
Disto, um total de 179 governos assinaram o Programa de Ação da CIPD, que se propôs a fornecer acesso universal ao planejamento familiar e serviços de saúde sexual e reprodutiva e os direitos reprodutivos, e entregar a igualdade de gênero, o empoderamento das mulheres e a igualdade de acesso à educação para meninas.
Fonte: Opera Mundi
Data original da publicação: 12/02/2014