Há cerca de quatro meses, as expetativas da esquerda e do mundo sindical norte-americano estavam presas numa demorada contagem de votos num armazém em Bessemer, no Alabama. Tratava-se do referendo que podia criar, pela primeira vez nos Estados Unidos, um sindicato na Amazon. Com a empresa a investir milhões, o resultado foi uma pesada derrota para o movimento sindical. 1.798 trabalhadores votaram “não” ao sindicato, 738 votaram “sim” e 505 boletins de voto não chegaram a ser contados porque a Amazon os contestou.
Mas a história pode não ter terminado aqui e agora a responsável pela avaliação do processo da entidade supervisora destes atos, a National Labor Relations Board, vem dar razão a algumas das queixas dos sindicalistas e recomendar que o referendo seja repetido devido às pressões ilegítimas feitas pela Amazon. Uma recomendação formal mas que não é vinculativa uma vez que a decisão final fica nas mãos do diretor regional da NLRB em Atlanta e ainda poderá demorar várias semanas. Contudo, a Amazon anunciou desde logo que recorrerá.
O Retail, Wholesale and Department Store Union, o sindicato que promoveu a votação tinha reagido à derrota alegando que a empresa ameaçara os trabalhadores com a redução de direitos e que tinha comprometido o processo eleitoral ao colocar uma caixa postal para recolha de votos fora do armazém, à vista das câmaras de segurança do local, criando a perceção de que estavam a ser vigiados, e com uma mensagem da campanha contra a sindicalização. Do ponto de vista da lei laboral norte-americana, a pressão de cortar benefícios ou fechar instalações caso os trabalhadores adiram a um sindicato é ilegal. Tal como o é vigiar atividades sindicais.
O RWDSU congratulou-se com a decisão em comunicado em que escreve que “os trabalhadores sofreram uma campanha anti-sindical intensa concebida pela Amazon para intimidar e interferir com a sua escolha” com recurso a “táticas ilegais”. Stuart Appelbaum, o seu presidente, declarou que “a Amazon fez batota, foi apanhada e agora está a ser responsabilizada”, considerando o comportamento da empresa “desprezível”.
O adjetivo é aplicado não só às intervenções consideradas ilegais como a muitas das que são permitidas por lei como a obrigatoriedade dos trabalhadores assistirem às reuniões da empresa onde se ataca o sindicalismo ou o envio de mensagens sms, ou cartazes até nas casas de banho entre outras.
A Amazon tem sido acusada de desrespeitar os direitos dos seus trabalhadores. É o próprio Washington Post, propriedade do patrão da Amazon Jeff Bezos, que apresenta algumas destas queixas: falta de pausas para ir à casa de banho, instalações quentes demais e objetivos de desempenho demasiado agressivos”. A pandemia também trouxe “preocupações” aos trabalhadores que acusavam as administrações dos armazéns de “não tomarem precauções suficientes”.
Fonte: Esquerda
Data original da publicação: 04/08/2021