Os suíços se recusaram no domingo (18/05) em referendo e por uma ampla maioria a instauração de um salário mínimo legal de 4.000 francos (R$ 9.920,00) ou 22 francos a hora (R$ 54,57), segundo os resultados oficiais. Cerca de 76% dos votantes pronunciou-se na contramão desta proposta dos sindicatos, que perdeu em 19 dos 26 cantones (uma espécie de Estado) do país.
Os sindicatos, apoiados pelo Partido Socialista e Verde, lançaram esta iniciativa como uma forma de reduzir a crescente desigualdade salarial em um dos países mais caros do mundo.
A Confederação Helvética faz parte da minoria de países europeus que necessita de uma legislação que regule uma remuneração mínima, como têm 21 dos 28 países da União Europeia – bloco ao qual a Suíça não pertence –, embora em níveis muito inferiores ao proposto no referendo de hoje na Suíça. Se este salário mínimo fosse aprovado, seria o maior do mundo.
Os sindicatos patronais e os partidos conservadores se opunham à medida por considerar que prejudicava justamente aos que pretendia proteger e alertavam de que provocaria a destruição de empregos, um argumento que calou entre os votantes.
Os salários mais baixos na Suíça correspondem, de maneira geral, às atividades de limpeza, restauração, hotelaria, cuidado de pessoas e vendas, ocupações nas que se utiliza largamente o trabalho em tempo parcial. Esta modalidade de emprego, muito comum na Suíça, penaliza o trabalhador que percebe proporcionalmente menos do que ganharia em um emprego em tempo integral.
Durante a campanha do referendo, representantes da hotelaria e a restauração advertiram repetidamente de que estabelecer um salário mínimo de 4.000 francos obrigaria aos pequenos e médios empresários a eliminar postos de trabalho. Ambas atividades econômicas constituem a quarta fonte mais importante de emprego na Confederação Helvética. Afirmava-se também que a iniciativa reduzisse o emprego em setores de baixa produtividade, como a gastronomia, a agricultura e o comércio ao detalhe.
Ao comentar o resultado de hoje, o agrupamento Mulheres Socialistas Suíças considerou que a rejeição ao salário mínimo é um “bofetada” para as trabalhadoras, que são, como o mostram as estatísticas oficiais, as mais afetadas pelos baixos salários.
Na atualidade, um trabalhador com um salário mínimo na Suíça recebe aproximadamente o dobro do que um britânico. Apesar disto, as autoridades suíças estimam que um em cada dez trabalhadores tem dificuldades para pagar a o aluguel de sua casa embora trabalhem em tempo integral, devido ao alto custo de vida no país. O salário médio por hora na Suíça é de 33 francos suíços.
As diferenças salariais ocuparam um destacado espaço no debate público nos últimos meses, com a iniciativa dos jovens socialistas de limitar o salário dos diretores, que foi recusada em novembro. O texto propunha que nenhum diretor ganhasse 12 vezes que qualquer outro assalariado da empresa. Ainda assim, o resultado de hoje demonstrou que os suíços são contrários a permitir ao Estado que regule quanto deve ganhar um trabalhador e impor estas regras aos pequenos e médios empresários, que geram dois em cada três empregos em Suíça.
Fonte: El País
Data original da publicação: 18/05/2014