Resumo: |
Um dos ambientes mais afetados pelo assédio moral é o setor da educação, especialmente em decorrência de disputas de poder, usualmente como elemento constituinte da cultura. Embora a cultura influencie e/ou sustente práticas de assédio moral, a literatura e as pesquisas não apresentam como e quais elementos culturais propiciam a ocorrência da violência. Constata-se uma lacuna na literatura e, portanto, esta pesquisa teve como objetivo compreender as relações entre a cultura organizacional e o assédio moral no trabalho na Universidade Federal de Santa Catarina. Em relação ao método, a pesquisa teve uma abordagem qualitativa e quantitativa, caracterizando-se ainda como descritiva, aplicada e estudo de caso. O lócus foi a Universidade Federal de Santa Catarina, e os participantes foram os servidores docentes e técnico-administrativos. Para a coleta de dados foi disponibilizado um questionário online, respondido por 214 participantes, e posteriormente, foram realizadas 12 entrevistas. Em relação à análise dos dados, as informações obtidas por meio do questionário online foram analisadas seguindo uma abordagem de análise quantitativa e as entrevistas por meio da análise de conteúdo. Na dimensão cultura e práticas organizacionais, a partir das categorias, subcategorias e unidades de análises estabelecidos, enfatiza-se alguns aspectos reiteradamente identificados: ambiguidade ou pouca clareza quanto aos procedimentos para o trabalho, disparidade entre os valores declarados e praticados, modelo de gestão predominantemente político, relações políticas, corporativismo, diferenciação entre categorias, clientelismo, paternalismo, a impunidade, práticas de favorecimento, práticas e comportamentos orientados por interesse pessoal ou grupal, desbalanço de poder. Na dimensão sobre o assédio moral, foi identificado que os pesquisados compreendem a violência por meio das ações hostis que são perpetradas. As situações hostis mais frequentes estão relacionadas com a realização do próprio trabalho, como ser exposto a uma carga excessiva de trabalho; realizar atividades baixo do nível de competência; e ter opinião e ponto de vista ignorados. Segundo os pesquisados, os motivos de serem assediados foram o pertencimento ou não aos grupos dominantes, a categoria a qual pertence, e o tempo de instituição. Entre as características dos agressores, a maioria ocupam posição de chefia, são homens, e são 2 ou mais agressores. As consequências na saúde psíquica das vítimas foram as mais frequentes, seguidas pelos efeitos no trabalho. Evidenciou-se que maior parte dos assediados não denunciaram a violência, devido principalmente a desconfiança com o sistema interno, medo de que pode sofrer represálias, e porque “não vai adiantar”. No aspecto institucional, foi evidenciado que a instituição não se posiciona claramente em relação ao assédio por meio de suas políticas e ações. Na dimensão sobre os elementos vinculantes entre a cultura organizacional e o assédio moral no trabalho, 49,5% afirmaram que a cultura da UFSC influencia nas práticas de assédio moral. A partir das dimensões anteriores, foram identificados estes elementos, que favorecem e/ou sustentam as práticas culturais de assédio moral na UFSC: a impunidade ou falta de punição para assediadores; as diferenças entre categoria (docentes e técnicos), entre novos e antigos, entre efetivos e substitutos; a política e grupos dominantes de poder; a falta de preparo para os trabalhadores exercerem suas atividades e dos servidores para ocuparem cargos de chefia; as ambiguidades no que se refere as incertezas do trabalhador em relação a sua atividade e expectativas laborais; e o distanciamento entre o discurso e a prática, principalmente dos gestores, os quais deveriam inibir todas estas situações recorrentes na instituição. Por fim, enfatiza-se que as cultura e práticas organizacionais da UFSC é reprodutora, na maioria das vezes, da cultura mais ampla, ou seja, ela possui elementos muito presentes da cultura do serviço público e da cultura brasileira. |