A entrada no mercado mundial da China, da Índia e do antigo bloco soviético conduziu a uma duplicação da força de trabalho que está em concorrência no mercado mundial.
Michel Husson
Fonte: Esquerda.net
Tradução: de Carlos Santos, com ajustes para o português do Brasil
Data original da publicação: 07/01/2014
Originalmente publicado em francês no site do autor em 18/12/2013
Durante os anos 1990, deu-se um fenômeno decisivo com a entrada no mercado mundial da China, da Índia e do antigo bloco soviético, o que conduziu a uma duplicação da força de trabalho que está em concorrência no mercado mundial [1].
Os dados da OIT [2] permitem uma estimativa do emprego assalariado à escala mundial. Nos países “avançados”, ele progrediu cerca de 20% entre 1992 e 2008, depois estagna desde a entrada em crise. Nos países “emergentes”, aumentou quase 80% no mesmo período.

No emprego na indústria, registra-se um resultado semelhante, mas ainda mais marcante: entre 1980 e 2005, a mão de obra industrial aumentou 120% nos países “emergentes”, mas baixou 19% nos países “avançados” [3].
A mesma constatação sobressai de um estudo recente do FMI [4] que calcula a força de trabalho nos setores exportadores de cada país. Obtém-se uma estimativa da força de trabalho mundializada, que está diretamente integrada nas cadeias de valor globais. A discrepância é ainda mais marcante: entre 1990 e 2010, a força de trabalho global assim calculada aumentou de 190% nos países “emergentes”, contra 46% nos países “avançados”.

A mundialização conduz tendencialmente à formação de um mercado mundial e também à de uma classe operária mundial, cujo crescimento se faz no essencial nos países dito emergentes. Este processo é acompanhado de uma tendência para que a força de trabalho seja assalariada. A taxa do emprego assalariado (a proporção de assalariados no emprego) aumenta de forma contínua, passando de 33% para 42% no decurso dos últimos vinte anos. Verifica-se igualmente que esta tendência é mais marcante nas mulheres.

A dinâmica do emprego no mundo é ilustrada pelo gráfico 4 e pode resumir-se assim: quase estabilidade ou fraca progressão do emprego nos países “avançados”, aumento somente nos países “emergentes”: +40% entre 1992 e 2002, com aumento do emprego assalariado (salariado: +76%, outros empregos: +23%).

Para o ano de 2012, os dados da OIT conduzem à seguinte repartição do emprego mundial em bilhões:
Emprego nos países “avançados” | 0,47 |
Empregos assalariados nos países “emergentes” | 1,11 |
Outros empregos nos países “emergentes” | 1,55 |
Emprego mundial | 3,13 |
Esta classe operária mundial é extraordinariamente segmentada, devido às consideráveis diferenças salariais. Mas a mobilidade desta classe operária é limitada ao passo que os capitais obtiveram uma liberdade de circulação quase total. Nestas condições, a mundialização tem como efeito colocar potencialmente em concorrência os trabalhadores de todos os países. Essa pressão concorrencial exerce-se tanto sobre os assalariados dos países “avançados” como sobre os dos países “emergentes” e traduz-se por uma baixa tendencial da parte dos salários no rendimento mundial.
![Gráfico 5: Parte dos salários no rendimento mundial 1970-2010. Em % do PIB. Cálculos de Michel Husson a partir de Stockhammer, 2013 [5]. Média dos seguintes países: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, Suécia. Argentina, Brasil, Chile, China, Costa Rica, Quênia, México, Namíbia, Omã, Panamá, Peru, Rússia, África do Sul, Coreia do Sul, Tailândia, Turquia.](https://www.dmtemdebate.com.br/wp-content/uploads/2014/01/husson-grafico5.png)
Michel Husson é economista francês. Investigador no IRES (Instituto de Investigações Econômicas e Sociais).