‘A fome é o limite’, afirma economista sobre impacto do diesel no preço dos alimentos

Fotografia: Tânia Rego/Agência Brasil

O aumento de 8,8% no preço do diesel nas refinarias anunciado no último fim de semana deve impulsionar ainda mais a inflação. Em especial, os alimentos devem ficar mais caros, já que a maior parte da produção é distribuída por caminhões. Transportes e Alimentação foram os dois grupos com maior peso na inflação de 1,06% em abril, que teve a maior alta no mês desde 1996, de acordo com o índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE.

Para a supervisora de pesquisas do Dieese, Patrícia Costa, a alta dos alimentos deve esbarrar num limite: a queda da renda da população. Ela afirma que é difícil medir antecipadamente os impactos da alta do diesel, mas é um “fator importantíssimo”. Isso vai depender, segundo ela, da capacidade dos transportadores em repassarem esses aumentos ao consumidor.

“Para alguns alimentos, já estamos chegando no limite. Porque o limite é a renda disponível. A gente tem uma demanda muito reprimida. O que está acontecendo é que as pessoas não têm dinheiro para comer”, afirma a especialista. Para reforçar esse argumento, ela cita o preço recorde da cesta básica, que chegou a R$ 800 em São Paulo, o que corresponde a 71% do salário mínimo.

“O que te sobra depois de comprar os alimentos? Praticamente nada. Na verdade, você vai fazer uma conta reversa. Primeiro a pessoa paga o aluguel, depois os serviços essenciais, como água, gás e luz. E o que sobra para comer? É por aí que eu acho que o limite está dado. Está dado pela fome das pessoas.”

Nesse sentido, ela citou a queda do poder de compra do salário mínimo, assim como o aumento do número de pessoas que recebem apenas o mínimo. Além disso, ela destacou levantamento do Dieese no mês passado mostrando que 52% dos acordos salariais ficaram abaixo da inflação.

Críticas à Petrobras

A economista explica que a inflação dos alimentos vem ocorrendo desde o ano passado, mas foi agravada por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia. No entanto, ressaltou, é a política de Preços da Petrobras – o chamado Preço de Paridade de Importação (PPI) – que vem atuando como correia de transmissão dos aumentos no cenário externo para o mercado consumidor brasileiro.

“A gente vê notícias de que a Petrobras tem lucro atrás de lucro. Será que parte desse lucro não poderia servir para absorver esses impactos, e não ter elevação de preço tão grande internamente?”, questiona a especialista. “O que mais me incomoda é sermos um grande produtor de petróleo, mas não temos um ‘colchão de amortecimento’ para esses aumentos, num momento em que a população está passando fome.”

Fonte: Rede Brasil Atual
Texto: Tiago Pereira
Data original da publicação: 11/05/2022

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