A Amazon mais cria ou destrói empregos?

Estudo que questiona os benefícios da expansão da empresa nos EUA serve de alerta para todos os países.

Carlos Drummond

Fonte: Carta Capital
Data original da publicação: 19/02/2018

As livrarias e os setores de eletrônicos e utilidades domésticas, entre outros, contabilizam os estragos provocados pela Amazon desde que a empresa entrou no e-commerce brasileiro, em 2012.

As perdas e danos são significativos, mas a eficiência da megaempresa é tão grande que, aos olhos de muitos, compensaria os prejuízos para as economias dos países em que ela resolve atuar. “A melhor coisa que aconteceu para quem gosta de ler foi a chegada da “amãezon” no Brasil”, disse um internauta. Há ainda o deslumbramento, quase devoção, de não poucos diante do fato do dono da companhia ser um dos mais ricos do mundo.

Cabe, entretanto, indagar: qual é o efeito líquido da chegada da gigante do e-commerce mundial? No fim das contas, pesam mais os benefícios ou os prejuízos causados à sociedade?

O resultado de um estudo minucioso realizado nos Estados Unidos pelo respeitado think tank Economic Policy Institute sugere que o saldo é negativo quando o critério adotado é a geração de empregos. Há ainda um agravante nos EUA: a disputa entre as cidades para sediar os centros de distribuição da empresa em troca de generosas isenções fiscais e outros estímulos em prejuízo de investimentos públicos.

A publicação especializada Newsletter ComSchool relacionou no mês passado alguns impactos da atuação da empresa, entre positivos e negativos. Nos Estados Unidos, com mais de 2 bilhões de produtos no catálogo e cerca de 304 milhões de contas ativas, a Amazon domina 44% do comércio eletrônico do país.

Do total de clientes, 54 milhões são Amazon Prime, gastam 1,1 mil dólares por ano contra 600 dólares do restante e 78% deles apontam a entrega de livros físicos gratuita em dois dias como o principal motivo de serem fiéis à marca. Em 2015, a Amazon ultrapassou o Google em buscas de produtos nos EUA. Em alguns países europeus, abocanhou quase metade do mercado.

No Brasil, a Amazon chegou em 2012 com a venda de livros digitais e iniciou uma rápida escalada com a oferta do Kindle e livros impressos em 2014, eletrônicos e utilidades domésticas em 2017 e produtos de informática, telefonia, construção, ferramentas, games e escritório neste ano.

O anúncio, em outubro, da expansão das atividades da Amazon no País provocou forte queda das ações da B2W e do Magazine Luiza na bolsa brasileira e o Mercado Livre perdeu 1,2 bilhão do seu valor de mercado entre dois pregões na bolsa americana Nasdaq, noticiou na ocasião a Bloomberg.

No texto Unfulfilled promises: Amazon fulfillment centers do not generate broad-based employment growth, o Economic Policy Institute relata os resultados de pesquisa sobre a geração de emprego pela Amazon. O estudo concentrou-se na rede de centros de distribuição, iniciada em 1994 e hoje com 95 unidades em 25 estados dos EUA, representando mais de três quartos da área de toda a infraestrutura da Amazon. Esses centros recebem, embalam, rotulam, verificam, remetem e rastreiam os produtos.

A expansão da rede de distribuição física coincidiu com um plano de negócios estratégico de negociar milhões em redução de impostos, créditos, isenções e apoio para infraestrutura com os governos estaduais e locais em nome do desenvolvimento econômico regional.

No final de 2016, a Amazon recebeu mais de 1 bilhão de dólares em subsídios estaduais e locais para suas instalações, o que inclui não só centros de atendimento, mas centros de “triagem” que apenas classificam pacotes, centros de correspondência e outras instalações. Em troca dos incentivos, a empresa afirma criar centenas de empregos com remuneração e benefícios competitivos.

A pesquisa do EPI descobriu, entretanto, que quando a Amazon abre um novo centro de distribuição, o município ganha aproximadamente 30 por cento mais empregos de armazenagem, mas nenhum emprego líquido novo, já que os postos de trabalho gerados provavelmente são compensados por perdas de emprego em outros setores.

A constatação é grave, diz o estudo, porque “os governos estaduais e locais dão milhões em reduções fiscais, créditos, isenções e assistência de infraestrutura para atrair armazéns da Amazon, mas não obtêm um “retorno” compatível com esse investimento.

Ao invés de gastar recursos públicos em uma estratégia ineficaz para impulsionar o emprego local, esses governos devem investir em serviços públicos, particularmente na educação básica e infraestrutura, comprovadamente eficazes para estimular o desenvolvimento econômico de longo prazo”, recomenda o think tank.

Trata-se de uma questão urgente, na medida que a Amazon pretende abrir uma segunda sede estadunidense neste ano com utilização de uma estratégia similar, só que em uma escala muito maior.

O Distrito de Columbia, por exemplo, teria oferecido a Amazon um corte permanente da taxa de impostos e isenção de tributos sobre vendas. De acordo com o The Washington Post, o anúncio dos finalistas na corrida para hospedagem da nova sede “também levantou questões mais difíceis sobre a influência de grandes gigantes tecnológicos nas cidades e as possíveis consequências involuntárias de dar benefícios fiscais, entre outros, para um já bem-sucedido Titã corporativo”.

Mesmo quando não existirem isenções e benefícios, interessa a todo país saber qual o efeito líquido entre geração e extinção de empregos a partir do ingresso da Amazon ou qualquer outra empresa.

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