Em confronto com a polícia, morreu o operário José Martinez, em incidente que disparou a greve geral de 1917 em São Paulo.
Igor Natusch
Durante pouco mais de dez dias, em 1917, trabalhadores do estado de São Paulo cruzaram os braços, naquela que foi a primeira greve geral da história do país. Ponto culminante de uma série de insatisfações e consequência direta do fortalecimento das organizações de trabalhadores no Brasil, a paralisação teve como gatilho um incidente trágico: a morte do anarquista espanhol José Martinez, ocorrida durante um protesto no dia 9 de julho daquele ano.
Eram dias de industrialização crescente no Brasil, com muitos imigrantes europeus buscando ocupação nas fábricas dos grandes centros urbanos. Além da força de trabalho, os operários vindos de países como Itália, Espanha, Alemanha e Polônia trouxeram também as bases de um pensamento político, que começou a tomar forma em fraternidades e organizações operárias. Então de pensamento majoritariamente libertário, esses grupos passaram a buscar reações coletivas em busca de melhorias salariais e de condições hoje consideradas básicas, como férias, fim de jornadas exaustivas e limitações ao trabalho infantil, entre outras. A reação das autoridades era não raro brutal, e a intervenção violenta de policiais em reuniões e manifestações era a norma.
José Iñeguez Martinez acabou, de forma trágica, tornando-se um símbolo de todas essas pressões. O jovem de 21 anos trabalhava como sapateiro, e estava vinculado a duas entidades do nascente sindicalismo brasileiro de então, a Federação Operária de São Paulo (FOSP) e a Confederação Operária Brasileira (COB). Iniciado na porta da fábrica Mariângela, no Brás, o protesto do dia 9 de jullho espalhou-se por bairros vizinhos, e um incidente na cervejaria Antarctica, na Mooca, foi dispersado com a ação de uma carga de cavalaria. Na confusão, Martinez acabou baleado no estômago, vindo a falecer durante a madrugada.
Seu funeral, ocorrido no cemitério do Araçá no dia 11 de julho de 1917, reuniu dezenas de milhares de pessoas, que ignoraram todas as tentativas de bloqueio policial e promoveram inflamados discursos contra o governo e os patrões. No mesmo dia, operários da indústria de tecidos Cotonifício Crespi, de São Paulo, declararam greve, em uma decisão que rapidamente virou uma bola de neve.
Disparada sem a convocação de nenhuma entidade ou liderança individual, a mobilização teve episódios de violência, com armazéns saqueados, veículos incendiados e vários episódios de confronto direto entre grevistas e forças policiais. Relatos da época falam em intensas trocas de tiros, de tal intensidade que até forças militares hesitavam em entrar em alguns bairros, temendo os disparos que podiam vir de qualquer janela entreaberta. Apenas quando a greve já ia longe, com mais de 70 mil adesões em todo o país, foi constituído um Comitê de Defesa Proletária, que garantiu o cumprimento de uma pauta de reivindicações.
Com garantias de que não haveria dispensas dos grevistas, além de melhorias salariais, a greve encerrou-se no dia 16 de julho de 1917. Inspirados pelo sucesso dos operários paulistas, movimentos semelhantes surgiram no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, consolidando ainda mais a força dos movimentos organizados de trabalhadores.
Muito esclarecedor, grata
Neste episódio, 3 policiais militares da Força Pública foram mortos, a história omite!
Dezenas de mortos e feridos pela Força Pública, o Estado omite
Sim, o Estado omite. Sou pesquisadora do tema, mais precisamente sobre os mortos e desaparecidos em confronto com a Força Pública na Greve de 1917. Há muita lacuna de informação nos documentos oficiais
*Os historiadores omitem
Quem repassa a história as massas não é o Estado, é o indivíduo professor. O livro didático serve apenas como apoio e um resumo, se você acha que outro assunto é relevante repassar aos outros, é só abrir a boca e falar. Fazer vídeos. Fazer matérias.
Não estamos vivendo em uma ditadura. Se informações como essas não chegam as massas, é por incompetência sua e de seus colegas.