Há 105 anos, era publicada a primeira edição do jornal A Plebe, um marco na imprensa operária do Brasil.
Igor Natusch
Surgido em meio à efervescência do movimento operário brasileiro nos primeiros anos do século XX, o jornal paulista A Plebe teve sua primeira edição circulando no dia 09 de janeiro de 1917. Conduzido na maior parte do tempo pelo tipógrafo e jornalista Edgard Leuenroth, o veículo surgiu como um desdobramento de uma publicação anterior, A Lanterna, encerrada originalmente em 1916 e que tinha a mesma linha editorial: anarquista, anticlerical e voltada à denúncia de más condições nas fábricas e fazendas, além de noticiar greves e demais movimentações da classe trabalhadora. Seu legado é marcante, sendo reconhecido até os dias atuais como um marco da imprensa voltada aos trabalhadores e um dos principais periódicos anarquistas da história brasileira.
De início, o jornal tinha periodicidade semanal, e quase imediatamente tornou-se um veículo estratégico no movimento sindical de então, já que seu surgimento coincide com as movimentações da greve geral de 1917 em São Paulo. A prisão de Leuenroth, acusado de liderar ações de saque durante a paralisação, fez com que as edições se tornassem intermitentes durante um curto período, mas logo o veículo retomou o fôlego, chegando a ser diário durante o ano de 1919. Em 1921, já inocentado das acusações, Leuenroth reassumiu como editor da publicação, que se tornou intermitente a partir de 1924, quando chegou a ser proibido pelas autoridades e circulou várias vezes de forma clandestina.
As idas e vindas na trajetória de A Plebe acabam sendo um resumo dos desafios e ações repressivas sofridos pelo movimento sindical e pelos militantes anarquistas na primeira metade do século passado. Em 1927, o jornal voltou a ter periodicidade fixa, denunciando os expurgos contra integrantes do movimento anarquista. Mas a chamada Lei Celerada do presidente Washington Luis impôs censura aos veículos de imprensa e criminalizou movimentos sociais, forçando o jornal a interromper a circulação em 1932. Associado à frente política Aliança Nacional Libertadora e com um enfoque claramente antigetulista, o periódico foi perseguido também pelo governo Vargas. Em 1934, uma edição que acusava abertamente Getúlio Vargas e a Igreja Católica de serem nazi-fascistas foi apreendida, e a escalada nas acusações de crime político levou ao encerramento de atividades no ano seguinte.
A Plebe reabriu apenas em 1º de maio de 1947, mais uma vez por iniciativa do incansável Edgard Leuenroth, com uma nova edição nº 1 e uma exaltação da “Volta à luta!” em sua capa. Nessa fase final, o veículo trazia um caráter mais formativo, fortemente conectado ao Centro de Cultura Social e buscando incentivar a retomada de núcleos libertários dentro do movimento sindical. Dirigido e editado por Rodolpho Felippe, que já havia conduzido o veículo durante a década de 1920, o jornal circulou pela última vez em 1951.
De espírito combativo, A Plebe se caracterizava pelo generoso uso de ilustrações, produzidas em sua maioria por colaboradores diretamente ligados à causa dos trabalhadores. Devido a uma ampla troca de informações com militantes de outros países, o jornal também trazia um bom volume de notícias internacionais, sendo um dos únicos veículos operários da história brasileira a estabelecer algo semelhante a uma rede de correspondentes. Outra contribuição histórica de A Plebe, destacada por pesquisadoras como Ana Claudia Ribas, está na presença de uma série de colaboradoras, que inseriram nas páginas do periódico discussões sobre feminismo e sexualidade, praticamente ausentes em outras publicações semelhantes do período.