Há 143 anos, nascia Emiliano Zapata, líder camponês e um dos principais revolucionários da América Latina.
Igor Natusch
O imaginário dos movimentos populares e de trabalhadores da América Latina traz no mexicano Emiliano Zapata uma de suas figuras centrais. Nascido em 8 de agosto de 1879 na vila de Anenecuilco, no pequeno estado mexicano de Morelos, Zapata viveu em meio ao período mais conturbado da história política do México, e nele atuou de forma a tornar-se um dos mais marcantes revolucionários dos últimos séculos. Ao pegar em armas para enfrentar a ditadura de Porfirio Díaz, e ao defender a expropriação de terras dos grandes proprietários para entregá-las aos camponeses pobres, Zapata transformou-se em lenda mesmo antes de sua morte, sendo inspiração permanente para o pensamento revolucionário em todo o mundo.
A sociedade rural mexicana de então tinha estruturas primitivas e, ao mesmo tempo, elementos de um capitalismo quase predatório. As fazendas (haciendas) avançavam sobre as comunidades camponesas, e não raro faziam com que os habitantes locais virassem quase escravos por dívida, dentro de uma relação de trabalho chamada peonagem. Os Zapata, por sua vez, eram uma família de rancheros, moradores do campo que não tinham sido arrastados à peonagem e ainda mantinham suas próprias terras. Assim, a infância e juventude de Zapata foi de relativo conforto – ainda que Emiliano, ao que parece, nunca tenha fechado os olhos aos sofrimentos e dificuldades da população pobre de Morelos.
Envolvido desde a juventude com a política local, Zapata era um líder reconhecido entre a comunidade camponesa de Morelos, e tornou-se uma figura central nos acontecimentos desde os primeiros dias da revolução, em 1910. Tornou-se rapidamente líder do grupo armado Ejército Libertador del Sul, que derrotou as tropas federais na batalha de Cuautla (1911) em um dos movimentos decisivos para a queda de Díaz. No entanto, o revolucionário Francisco Madero, que assumiu o poder no lugar do ditador deposto, logo voltou-se contra os zapatistas, excluindo-os do governo nascente. Isso levou Zapata a estabelecer uma espécie de governo paralelo em Morelos, o que levou à promulgação, em novembro de 1911, do chamado Plano de Ayala. O documento traz o lema que virou resumo da ideologia zapatista: Reforma, Libertad, Justicia y Ley!
Apesar do duro avanço do exército federal, que destruía vilarejos e plantações por onde passavam, as tropas zapatistas conseguiram expulsar seus inimigos de Moneros, em meio a uma sequência de golpes e revoltas que levaram à formação de um governo constitucionalista no México, em julho de 1914. Apesar de apoiar as forças que derrotaram Francisco Madero e, depois, seu braço-direito Victoriano Huerta, Emiliano Zapata logo rompeu com Venustiano Carranza, que colocou a si mesmo como líder do novo governo. A divergência mostrou-se inconciliável, e a já sacudida sociedade mexicana mergulhou novamente em uma guerra civil.
Agora no comando da região de Morelos, Zapata implementou uma ampla reforma agrária na região, entregando terras das haciendas aos camponeses e libertando os camponeses da servidão por peonagem. Durante seu breve governo, Emiliano Zapata tornou-se uma figura idolatrada pela população local. A guerra, porém, logo voltaria a afligir Morelos: após derrotar o também revolucionário Pancho Villa, Venustiano Carranza avançou sobre a região, levando os zapatistas a adotar táticas de guerrilha. Mesmo consolidando o poder central no México, Carranza nunca conseguiu derrotar os zapatistas de forma definitiva, em um confronto que arrastou-se durante anos.
Emiliano Zapata acabou executado em 10 de abril de 1919, em uma emboscada armada pelo general Jesús Guajardo, que fingiu ter interesse em assinar uma aliança com os zapatistas. Sua morte, porém, longe esteve de eliminar a aura mítica em torno do revolucionário, muito menos eliminar o movimento que ele liderou e inspirou. A pioneira constituição do México (1917) delimitou uma reforma agrária fortemente inspirada nas diretrizes do Plano de Ayala, e os zapatistas originais seguiram ativos pelo menos até a morte de Venustiano Carranza, após uma tentativa frustrada de impor Ignacio Bonillas como seu sucessor em 1920. Hoje, Emiliano Zapata é um dos principais heróis nacionais do México, e seu nome e imagem são adotados como símbolo por movimentos populares em todo o mundo – entre eles o Exército Zapatista de Libertação Nacional, que ainda hoje controla partes significativas do estado mexicano de Chiapas.