Há 239 anos, nascia William Benbow, o primeiro a propor greve geral como forma de disputa política
Igor Natusch
Há cerca de dois séculos, a greve geral vem sendo defendida (e muitas vezes efetivamente empregada) como mecanismo de pressão política. As origens desse conceito remontam à Inglaterra da primeira metade do Século XVII, em meio às disputas disparadas pelo movimento cartista, que exigia reformas políticas voltadas à classe trabalhadora. Nesse cenário, o sapateiro, editor e agitador político William Benbow, nascido mais provavelmente em 5 de fevereiro de 1784 na pequena cidade inglesa de Middlewich, é amplamente reconhecido como o primeiro a formular o conceito de uma greve geral, tendo popularizado a ideia de forma incansável em uma série de panfletos e publicações.
As informações sobre a vida de Benbow não são muito amplas. É sabido que ele se auto-declarava batista, e que tinha envolvimento com os chamados não-conformistas – protestantes que questionavam abertamente a autoridade da Igreja Anglicana. Envolvido com os movimentos radicais da política britânica desde o começo da vida adulta, foi preso em 1817, permanecendo vários meses na prisão. Ao sair de lá, começou a atuar como editor, a partir de um panfleto chamado Censorship Exposed (Censura Revelada, em uma tradução livre), de 1818, no qual fazia uma denúncia das condições de sua prisão. A linguagem pouco sofisticada, mas cheia de metáforas vívidas e argumentação apaixonada, estaria presente em boa parte dos escritos futuros de Benbow.
Com publicações baseadas nas cidades de Manchester e Londres, o ativista não poupava em tiradas contra clérigos e políticos, além de editar uma reedição do poema satírico “Don Juan”, de Lord Byron, e até mesmo volumes pornográficos. Ele também assumiu, por alguns anos, as publicações do jornal Political Register, do notório reformista William Cobbett. Sua mais importante edição, porém, viria nos primeiros meses de 1832, com o nome The Grand National Holiday (O Grande Feriado Nacional).
No texto, Benbow cristaliza ideias que vinha defendendo em uma série de encontros de grupos radicais. Em sua visão, um período prolongado de braços cruzados, unindo diferentes setores da classe trabalhadora, poderia criar o cenário para grandes transformações políticas. Esse seria um ato sagrado, por isso a expressão “holiday” (dia santo), com um sentido diferente ao que associamos ao “feriado” na atualidade. Comitês locais elegeriam delegados para uma convenção nacional responsável por eleger um novo governo, além de coordenar o uso de recursos financeiros – que seriam, em sua visão, confiscados ou obtidos a partir de pressão sobre os elementos mais ricos da sociedade.
As ideias de Benbow não prosperaram de imediato, e ele chegou a ser preso novamente ainda em 1832, acusado de ser um dos idealizadores de uma manifestação ilegal. Mas suas ideias ganharam nova força na segunda metade daquela década, a partir da consolidação do cartismo, e um “mês sagrado” chegou a ser planejado para agosto de 1839, mesmo sem apoio direto dos líderes do movimento. A greve, contudo, foi contida antes de começar – e William Benbow, que promovia a paralisação de forma entusiástica, foi preso e condenado a dezesseis meses de prisão em 1840.
No fim da vida, o editor deixou para trás seus dias de agitador, emigrando com a família para a Austrália, onde sustentou-se como sapateiro até seu falecimento, em 24 de fevereiro de 1864. De qualquer modo, sua ideia de greve geral tornou-se, com o tempo, uma das mais fortes ferramentas de luta da classe trabalhadora, sendo hoje uma estratégia reconhecida e utilizada no mundo todo.