Há 103 anos, chegava ao fim o Terceiro Congresso Operário Brasileiro, importante evento do sindicalismo revolucionário brasileiro
Igor Natusch
Realizado há exatos cem anos, entre os dias 23 e 30 de abril de 1920, o terceiro e último Congresso Operário Brasileiro é, hoje, um episódio pouco lembrado – ao menos quando comparado às edições anteriores, de 1906 e 1913, ambas importantes pilares na gênese do movimento sindical brasileiro. Esse esquecimento tem muito a ver com a pouca efetividade de seus encaminhamentos, que se viram rapidamente dispersos em meio ao conturbado cenário político e social dos anos que se seguiram. Seja como for, trata-se de um importante marco no desenvolvimento do pensamento sindical brasileiro, indispensável para compreender as angústias e disputas no coração do movimento operário da primeira metade do século XX.
Nascida em 1908, como consequência direta no primeiro Congresso, a Confederação Operária Brasileira não mais existia na prática em 1920 – O jornal A Voz do Trabalhador, veículo oficial da COB, rodou sua última edição em junho de 1915. Assim, a decisão de encaminhar um terceiro encontro, sete anos depois do segundo evento e cerca de cinco depois do desmantelamento da Confederação, tinha um evidente caráter de reconstrução e reaglutinação de forças. O clima era conturbado: a partir da greve geral de julho de 1917, e em especial nos anos seguintes, os governos passaram a atuar de forma dura contra os movimentos dos trabalhadores, em uma série contínua de medidas de repressão, prisões e deportações.
Os debates do terceiro Congresso Operário Brasileiro ocorreram na sede da União dos Operários em Fábricas de Tecidos, no Rio de Janeiro, reunindo um total de 116 delegados representando 64 entidades de diferentes regiões do país. Convocado em um cenário de acelerada expansão da indústria brasileira, a partir de condições favoráveis decorrentes da 1ª Guerra Mundial, não surpreende que um dos principais encaminhamentos do debate tenha sido a disposição de priorizar a sindicalização por indústrias, em detrimento da organização por ofícios – uma abordagem que rompia com as edições anteriores, mas sintonizada com as novas relações tecnológicas e trabalhistas daqueles dias.
Importantes deliberações dos congressos anteriores, como a organização por federações, foram reiteradas, e foi estabelecida uma Comissão Executiva, que agiria junto às entidades participantes para garantir o cumprimento das resoluções. Chegou a ser apresentada uma proposta de adesão à Terceira Internacional, estabelecida no ano anterior, mas a ideia acabou sendo rejeitada, em detrimento de uma resolução desejando “votos de felicidade” ao “importante acontecimento de Moscou”, referindo-se à Revolução Russa de 1917. Outra iniciativa foi a de buscar uma sensibilização, junto a trabalhadores marítimos e ferroviários, para que se negassem a transportar ativistas que estivessem sendo deportados.
Em uma disposição de espírito otimista, o Terceiro Congresso Operário Brasileiro encerrou-se com uma quarta edição agendada para 1921, além de encaminhamentos para a articulação de um encontro sul-americano de entidades sindicais. As promessas do futuro, porém, não se cumpriram. A repressão estatal tornou-se ainda mais intensa, culminando na chamada Lei Adolfo Gordo de 1921, que deu pretexto ao fechamento de vários sindicatos. Em paralelo, estabeleceu-se uma intensa disputa ideológica no coração do movimento operário brasileiro, colocando anarquistas e comunistas em lados opostos e pulverizando as articulações de escala nacional feitas até então.
De qualquer modo, e mesmo sem ter conseguido colocar seus planos para o futuro em prática, o encontro de 1920 mantém sua importância histórica, marcando (ao menos simbolicamente) o encerramento de um importante ciclo histórico do movimento sindical brasileiro.