29 de novembro de 1879: o semanário britânico Notes and Queries registra, pela primeira vez na história, o conceito “fim de semana”

Há 143 anos, a publicação inglesa Notes and Queries fez o primeiro registro documentado da expressão “fim de semana”. Fonte comum para quem estuda as origens de expressões em inglês, o almanaque acabou registrando também marco importante para o mundo do trabalho.

Imagem: Hastings Pier Community Center

Igor Natusch

Para a maior parte da classe trabalhadora formalizada, o fim de semana é um período quase sagrado, dedicado ao descanso, ao lazer familiar e às atividades domésticas. O conceito, contudo, é uma construção relativamente recente. Segundo fontes como o Oxford English Dictionary, a primeira menção concreta à expressão ‘fim de semana’ vem da publicação inglesa Notes and Queries, em uma edição que circulou originalmente no dia 29 de novembro de 1879. Fonte comum para quem estuda as origens de expressões em inglês, o almanaque (que, aliás, segue sendo publicado em 2021) acabou registrando também, de forma casual e descompromissada, um marco importante na vida de trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo.

Segundo pesquisadores ligados à história do trabalho, o conceito de fim de semana surge entre os séculos XVIII e XIX, como um desdobramento da ideia religiosa de guardar um dia para louvor e descanso, como nos casos do shabat judaico e do domingo para os cristãos. Na medida em que trabalhadores e trabalhadoras se mobilizam no sentido de diminuir a carga opressiva de trabalho trazida pela industrialização, começam a surgir arranjos em torno de um descanso semanal, de caráter periódico. 

Autores como Witold Rybczynski citam, por exemplo, a tendência de alguns patrões britânicos a conceder folgas que iam da tarde de sábado até a manhã de segunda-feira – levando em conta, por exemplo, a necessidade dos operários se recuperarem do consumo de álcool, lazer mais comum entre eles nos parcos períodos de folga. O número crescente de trabalhadores de classe média – que precisavam trabalhar para outras pessoas, mas não exerciam tarefas extenuantes e mal remuneradas como as das fábricas – também ajudou a consolidar a ideia de que era necessário oferecer um descanso minimamente digno e previsível para a classe trabalhadora.

O conceito de ‘fim de semana’ era, então, uma construção em andamento – e a menção no Notes and Queries é o mais antigo testemunho documental desse processo. Publicado desde novembro de 1849, o almanaque tinha periodicidade em geral quinzenal, e trazia como principal tema comentários e curiosidades sobre literatura e a língua inglesa. A nota em questão, publicada no volume 12 da série 5 (referente aos meses de julho a dezembro de 1879), diz o seguinte: “se uma pessoa deixa sua casa ao final de sua semana de trabalho, na tarde de sábado, para passar a noite de sábado e o domingo seguinte com amigos longe do lar, diz-se que essa pessoa está passando seu final de semana no lugar tal”. 

O pequeno texto questiona se a expressão é típica do condado de Straffordshire, ou seja, dá a entender que se tratava de algo ainda não disseminado pela Inglaterra. Na verdade, o simples fato de aparecer no Notes and Queries, em um espaço dedicado a expressões curiosas ou inusitadas, demonstra que o conceito ainda era uma novidade no país. Pouco mais de uma década depois, no entanto, a expressão já tinha se espalhado, ao ponto de ser citada com naturalidade em uma edição do The Times de Londres, datada de 18 de março de 1892, uma das primeiras menções ao termo localizadas por pesquisadores na imprensa britânica.

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