Há 202 anos, nascia o filósofo alemão Friedrich Engels, um dos mais importantes nomes do pensamento econômico e político de todos os tempos
Igor Natusch
Talvez o nome de Friedrich Engels esteja ligeiramente menos em evidência, nos debates da contemporaneidade, quando comparado ao de seu amigo pessoal e colega intelectual Karl Marx. Mas ninguém poderá negar a extraordinária importância do filósofo alemão para o desenvolvimento do pensamento socialista, figurando sem discussões entre os principais nomes da filosofia política em todos os tempos. Nascido em 28 de novembro de 1820, na cidade de Barmen (então parte da Prússia), Engels foi autor ou coautor de várias obras definidoras do marxismo e que são leitura obrigatória para qualquer um que se interesse por política e análise social.
Filho de um rico industrial alemão, Engels consolidou sua sensibilidade contra a desigualdade social a partir de sua estadia em Manchester (Inglaterra), onde esteve entre 1842 e 1844. A ideia de seu pai era que, conhecendo como os negócios da família funcionavam, o filho abandonaria as ideias radicais que vinha abraçando. O efeito foi oposto: espantado com a penúria na qual os trabalhadores ingleses viviam, passou a desenvolver seus primeiros estudos aprofundados sobre a classe operária. Em várias dessas incursões, teve a ajuda de uma jovem trabalhadora irlandesa chamada Mary Burns, com quem teria um relacionamento até a morte desta, em 1836. Esse estudo levaria à publicação, em 1845, de A situação da classe trabalhadora da Inglaterra, até hoje uma de suas obras mais célebres.
Antes de voltar à Alemanha, Engels foi a Paris para visitar Karl Marx, com quem trocava correspondências e já tinha conhecido brevemente, embora sem grande entusiasmo de lado a lado. Desta vez, as afinidades superaram qualquer desconfiança, e desde então foram amigos e colaboradores durante toda a vida. Juntos, produziram obras fundamentais para o desenvolvimento e consolidação do socialismo científico, como A sagrada família (1845) e A ideologia alemã (publicado postumamente em 1933), além do histórico Manifesto comunista (1848), um dos textos políticos mais influentes de todos os tempos.
Sua obra individual, porém, é igualmente decisiva, com trabalhos como A guerra camponesa alemã (1850), Do socialismo utópico ao socialismo científico (1880) e A origem da família, da propriedade privada e do Estado (1884). Além da crítica ao modelo capitalista e de defender que as condições econômicas determinam a sociedade de cada época, o autor estabelecia um paralelo entre o socialismo e o cristianismo primitivo, tratando a busca de uma sociedade sem classes e propriedade privada como um ideal cristão – um pensamento que reflete até hoje, em uma série de aproximações entre religião e movimentos políticos e sociais.
Envolvido com o jornalismo radical da época, Engels colaborou para várias publicações, tanto na Inglaterra quanto na França e em sua Alemanha natal, e chegou a se envolver ativamente em movimentos revolucionários, incluindo a tentativa de revolução na Baviera entre 1848 e 1849 – um levante no qual chegou a se temer que tivesse perdido a vida. Perseguido pelas autoridades prussianas, Engels refugiou-se na Suíça e, depois, na Inglaterra, onde viveria até seu falecimento. Nessa época, fez uso de nomes falsos para fugir das autoridades; muitos detalhes de sua vida na época, porém, acabaram se perdendo, na medida em que o filósofo destruiu suas correspondências com Marx enquanto vivia em Salford, como medida de segurança pessoal.
Em 1870, Engels mudou-se para Londres, onde viveu e trabalhou ao lado de Karl Marx até o falecimento deste, em 1883. Nesta época, sua companheira Mary Burns já não era mais viva, e ele se relacionava com a irmã mais nova desta, Lydia – com quem viveu até 1878, quando ela também veio a falecer. Entre outras tarefas, Friedrich Engels assumiu a sistematização dos muitos escritos deixados incompletos por Marx, o que levou a editar dois volumes extras de O capital, nos anos de 1885 e 1894. Pouco depois, o filósofo viria a falecer, vitimado por um câncer de garganta em 5 de agosto de 1895.