Há 146 anos, ocorreu a chamada Batalha do Viaduto, um dos mais sangrentos confrontos grevistas do século XIX nos EUA.
Igor Natusch
A história das greves, tanto nos Estados Unidos quanto no restante do mundo, nunca foi exatamente pacífica. Após o terceiro corte salarial no período de um ano, trabalhadores ferroviários da Baltimore and Ohio Railroad, em West Virginia, entraram em greve em julho de 1877, em uma paralisação que durou 45 dias e chegou a mobilizar mais de 100 mil trabalhadores. Marcada por uma série de confrontos violentos, a revolta espalhou-se para estados vizinhos, e ficou conhecida como a Grande Greve das Ferrovias de 1877. Um dos mais brutais eventos desses dias, a chamada Batalha do Viaduto (Battle of the Viaduct, no original inglês) ocorreu em Chicago, Illinois, espalhando danos materiais e causando uma série de mortes.
A difícil situação econômica vivida pelos EUA na época funcionou como um rastilho de pólvora, disseminando rapidamente um sentimento de indignação e simpatia pelos grevistas entre trabalhadores de diferentes setores. Em poucos dias, o viaduto da Halsted Street de Chicago passou a reunir verdadeiras multidões, em protestos que foram crescendo em hostilidade. Diante da ameaça de danos a equipamentos e instalações, muitos patrões optavam por autorizar seus empregados a deixar o trabalho, o que paralisou vários setores produtivos da cidade, então uma das mais populosas dos EUA.
Diante do quadro, a prefeitura de Chicago resolveu endurecer a repressão aos grevistas. Após dois conflitos de menor escala em dias anteriores, a polícia local foi enviada à Halsted Street, em 25 de julho de 1877, com ordens de dispersar a multidão, que então já juntava cerca de 10 mil pessoas. Mesmo com o recuo dos manifestantes, os oficiais abriram fogo contra as pessoas que fugiam – o que motivou uma reação raivosa, com pedras e disparos de pistola, e um cenário de confronto aberto. Segundo historiadores, trabalhadores de mercados próximos tomaram conhecimento do confronto e, com facas de açougueiro nas mãos, correram para dar apoio aos populares.
Mais numerosos, os grevistas conseguiram, após cerca de uma hora, forçar os policiais a recuar. Instantes antes de serem encurralados de uma forma possivelmente fatal, as tropas receberam reforço da cavalaria, que fez uso de táticas de guerra para, finalmente, dispersar a multidão. Ainda assim, focos de conflito foram verificados durante o restante do dia, enquanto patrulhas governamentais prendiam quem encontrassem pelo caminho.
O resultado da batalha foi sangrento. Segundo jornais da época, entre 18 e 30 trabalhadores morreram, além de cerca de 100 feridos. Do lado das forças policiais, cerca de treze agentes teriam sido hospitalizados, um deles vindo posteriormente a falecer. Mesmo sem uma aglomeração comparável, grupos de trabalhadores revoltados seguiram promovendo protestos nos dias seguintes, e muitos estabelecimentos só abririam novamente as portas vários dias depois. Com a continuidade da repressão, os últimos focos de greve em Illinois e em estados vizinhos desapareceram ao final de agosto de 1877. Quase esquecida durante quase um século, a Batalha do Viaduto vem sendo recuperada por historiadores e entidades sindicais nas últimas décadas, como símbolo de uma das mais violentas e sangrentas revoltas coletivas da história norte-americana.
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