Há 91 anos, comício durante greve de estivadores em Santos (SP) resultava em morte de militante negro e prisão da escritora e comunista Pagu.
Igor Natusch
A história dos enfrentamentos entre grupos de trabalhadores organizados e as forças governamentais é, infelizmente, marcada por incidentes sangrentos, no Brasil e em todos os lugares. Um deles, registrado na cidade de Santos em 23 de agosto de 1931, resultou na morte do ensacador de café Herculano de Sousa, ativista negro e militante comunista. Na mesma ocasião, a escritora Patrícia Galvão, conhecida como Pagu, foi presa, ao lado de Guiomar Gonçalves – algumas das primeiras mulheres comprovadamente presas por motivos políticos no Brasil.
Convocada pelo Socorro Vermelho Internacional e pela Federação Sindical de Santos, o ato tinha como objetivo declarado prestar homenagem aos anarquistas italianos Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, executados no mesmo dia em 1927. O comício, contudo, estava conectado a uma série de ações de caráter grevista dos estivadores santistas, coordenadas por grupos comunistas ligados a esses trabalhadores – uma movimentação que, como era de se esperar, acabou recebendo especial atenção das autoridades policiais.
O conflito, centralizado na Praça da República, acabou tomando proporções bastante violentas. Herculano de Sousa, que teria se recusado a recuar em meio à confusão, foi baleado por forças policiais e acabou falecendo no local, antes de receber socorro médico. Outro manifestante foi ferido por disparos da polícia, mas sobreviveu. Pagu – que havia se filiado no Partido Comunista Brasileiro no ano anterior, ao lado do marido Oswald de Andrade, e com ele editava o jornal revolucionário O Homem do Povo – teve papel atuante na organização dos protestos, e teria sido detida enquanto tentava socorrer um dos militantes feridos.
A artista e militante só seria libertada meses depois. Durante parte do cárcere, esteve em uma cela na Praça dos Andradas, local hoje conhecido como Cadeia Velha – e que, hoje, abriga um centro cultural com o seu nome. Seria a primeira de dezenas de detenções de Pagu, que se manteve politicamente ativa quase até seu falecimento, em 1962.