Há 117 anos, chegava ao fim a primeira greve geral do Rio Grande do Sul.
Igor Natusch
A longa história de mobilizações operárias do sul do Brasil teve um momento emblemático em outubro de 1906. Durante quase um mês, cerca de 3,5 mil trabalhadores foram às ruas de Porto Alegre, em uma mobilização que entrou para a história como a primeira greve geral na capital do Rio Grande do Sul.
A chamada Greve dos 21 dias contava com um núcleo anarquista, comandado pelo marmorista Polidoro Santos, e outro grupo, de caráter socialista, liderado pelo jornalista e gráfico Francisco Xavier da Costa – figura que, futuramente, seria o primeiro vereador negro de Porto Alegre.
Outras categorias, como marceneiros, alfaiates, estivadores e comerciários, também cruzaram os braços, pedindo uma jornada de oito horas diárias e aumento salarial, além de questionar as más condições de trabalho e as situações de maus tratos vivenciadas por certas categorias. Como decorrência dos protestos, Santos e Costa fundariam, em 5 de outubro daquele ano, a Federação Operária do Rio Grande do Sul (Forgs), que assumiu a dianteira das negociações com os empregadores.
A dificuldade em alcançar um acordo indispôs a imprensa da cidade contra os grevistas, e o governo estadual, a cargo de Antônio Augusto Borges de Medeiros, rotulou os trabalhadores de “desordeiros”, vindos de fora para semear a “peste da luta de classes”.
A greve foi dada por encerrada no dia 21, quando os patrões da indústria e o setor influenciado por Francisco Xavier da Costa chegaram a acordo em torno de uma jornada diária de nove horas – embora os marmoristas de Polidoro Santos tenham seguido na mobilização até que fosse concedida à classe o turno de oito horas por dia.