21 de abril de 1856: trabalhadores da construção na Austrália são alguns dos primeiros do mundo a conquistar a jornada de oito horas diárias de trabalho

Há 167 anos, trabalhadores da construção na Austrália são alguns dos primeiros do mundo a conquistar a jornada de oito horas diárias de trabalho

Ilustração: Anônimo/Wikimedia Commons

Igor Natusch

Foi uma longa jornada até que as oitos horas diárias de trabalho se tornassem uma realidade para boa parte dos trabalhadores e trabalhadoras ao redor do mundo. Em uma luta cheia de ativistas, mártires e pioneiros, coube aos artesãos de pedras e operários de construção de Melbourne, na Austrália, a honra de serem alguns dos primeiros do mundo a conquistar a jornada de oito horas, sacramentada no dia 21 de abril de 1856.

O movimento sindical australiano existe desde os anos 1830, ganhando amplitude na medida em que aumentava a presença de migrantes na então colônia britânica. Até o começo da década de 1850, uma típica jornada de trabalho na Austrália estendia-se por 14 horas diárias, seis dias por semana, indo ainda mais longe em determinadas situações. A partir do fim da deportação de condenados do Reino Unido para a Austrália, sacramentada em 1852, a disponibilidade de trabalhadores reduziu consideravelmente, uma vez que muitos preferiam tentar a sorte nas minas de ouro da região – um cenário que contribuiu bastante para o fortalecimento do movimento sindical australiano.

Um nome decisivo nesse cenário foi James Stephens, envolvido com o movimento cartista e que participou da chamada Revolta de Newport, um dos conflitos de caráter trabalhista mais sangrentos da primeira metade do século XIX na Inglaterra. Atraído pela corrida do ouro na Austrália, migrou em 1853 para Melbourne, então considerada uma das cidades mais prósperas do mundo. Com sua ampla vivência na luta por mudanças políticas, ele logo tornou-se um líder entre os que exigiam uma redução na jornada de trabalho na região. 

Abraçada pela maçonaria local, a demanda de oito horas diárias usava argumentos como o clima severo (que tornava as longas jornadas de trabalho ainda mais extenuantes) e a necessidade de maior coesão social na ainda crescente comunidade, permitindo que os trabalhadores tivessem mais tempo para estudar e conviver com suas famílias.

Nos primeiros meses de 1856, a pressão chegou ao auge. No dia 21 de abril, maçons que trabalhavam na construção da Universidade de Melbourne cruzaram os braços, marchando até o Parlamento local e atraindo outros trabalhadores pelo caminho. Assustados pela grande mobilização, e temendo que a revolta ganhasse contornos violentos e imprevisíveis, os empregadores decidiram rapidamente por aceitar as demandas. Os trabalhadores em serviços públicos, que faziam uma média de 10 horas por dia, ganharam a jornada de 48 horas semanais, sem redução salarial. 

Dizer que esses manifestantes foram os primeiros do mundo a atingir oito horas diárias de trabalho é, no mínimo, inexato: há situações anteriores pelo menos na Nova Zelândia, nos anos 1840, e na cidade australiana de Sydney, em 1855. No entanto, nenhuma delas teve a abrangência da conquista de Melbourne, que virou imediatamente uma inspiração para trabalhadores e trabalhadoras em diferentes partes do mundo. Hoje, além de um pilar fundamental do movimento sindical australiano, o vitorioso movimento de 1856 é considerado um marco histórico na luta da classe trabalhadora por trabalho decente e uma maior qualidade de vida. 

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