Há 114 anos, entrava em vigor o Trade Boards Act de 1909 no Reino Unido, legislação pioneira no estabelecimento de um salário mínimo
Igor Natusch
“É um grave mal nacional que qualquer classe de súditos de Sua Majestade receba menos do que um salário mínimo em troca de seus mais extenuantes esforços”. A frase de Winston Churchill, então presidente da Junta Comercial do governo britânico, tornou-se simbólica para o processo de aprovação da Trade Boards Act de 1909, primeira lei do Reino Unido a regular o pagamento de um salário mínimo. A partir dessa legislação, colocada em vigor em 20 de outubro de 1909, a necessidade de garantir uma remuneração mínima foi se consolidando em diferentes partes do mundo, tornando-se um parâmetro mínimo para as relações entre a classe trabalhadora e seus empregadores.
De certo modo, as origens da legislação estão em uma investigação conduzida pela Câmara dos Lordes sobre o chamado sweating system na indústria britânica e que foi concluída em 1890. Mesmo sem efeito prático imediato, já que não foi capaz de provocar mudanças efetivas nas leis de então, o inquérito foi importante ao definir essa modalidade abusiva de trabalho, associando-a a baixos salários, carga horária excessiva e condições insalubres; quando qualquer desses parâmetros assumisse caráter extremado, o sweating estaria caracterizado.
A perspectiva de agir diretamente sobre os salários de fome na Inglaterra, porém, só ganhou força a partir de 1896, quando entrou em vigor uma lei de salário mínimo no estado de Victoria, na Austrália. Os bons resultados da medida estrangeira acabaram chamando a atenção da parcela mais liberal dos legisladores ingleses. Esses integrantes do Parlamento viram na lei australiana uma possibilidade de agir sobre os péssimos salários nas sweated industries de seu país – as questões referentes a jornada e requisitos sanitários vinham sendo contempladas, ainda que de forma insuficiente, nas leis já existentes para regulação das fábricas na Inglaterra.
Embora menos abrangente do que a legislação da Austrália que o inspirou, o Trade Boards Act inglês estabeleceu conselhos capazes de estabelecer critérios para salário mínimo em quatro categorias: alfaitaria industrial, confecção de correntes, fabricação de caixas de papelão e de rendas e acabamentos em vestuário. Esses ofícios foram escolhidos como uma espécie de etapa de testes para a eficiência da lei, por serem atividades que atraíam grandes contingentes de trabalhadores não especializados e, em consequência, sujeitas a problemas históricos de baixa remuneração. O principal objetivo da medida era impedir que, nos períodos em que houvesse excedente de trabalhadores procurando emprego, os patrões usassem como critério a disposição de receber salários menores.
A iniciativa foi, em geral, bem sucedida. Em 1912, um comitê específico foi estabelecido para a indústria de mineração de carvão e, em 1918, as provisões do Trade Board Act foram estendidas a outras atividades que tivessem como característica o uso extensivo de mão-de-obra não especializada.