18 de março de 1953: trabalhadores promovem a passeata da “Panela Vazia”, decisiva para a histórica Greve dos 300 Mil

Há 70 anos, trabalhadores promoviam a passeata da “Panela Vazia”, decisiva para a histórica Greve dos 300 Mil

Igor Natusch

Um dos momentos mais marcantes da história operária brasileira, a chamada Greve dos 300 Mil explodiu nos últimos dias de março de 1953, mas ganhou fôlego decisivo um pouco antes. Mais precisamente em 18 de março daquele ano, quando cerca de 60 mil pessoas participaram da marcha da “Panela Vazia” – um movimento que deu coesão a uma série de mobilizações diversas e teve forte efeito no imaginário da classe trabalhadora de São Paulo e de todo o Brasil.

O Contexto Político e Econômico

As Origens do Conflito

Embora tenha estourado durante a presidência de Getúlio Vargas, a histórica greve foi a culminância de um processo de tensionamento com origens bem anteriores – mais especificamente, o Decreto-Lei nº 9.070, assinado por Eurico Gaspar Dutra em 1946.

O Decreto-Lei nº 9.070 e a Criminalização das Greves

Editadas supostamente para dispor sobre a suspensão ou abandono coletivo do trabalho, as regras acabaram, na prática, lançando todos os movimentos grevistas na ilegalidade. Em paralelo, o custo de vida disparou durante o governo de Dutra – e Vargas, que subiu ao poder em meio a uma grande expectativa da classe trabalhadora, não dava sinais de concretizar as melhoras prometidas.

Juntando a difícil situação econômica a um cenário de abertura para a atividade sindical, as paralisações de trabalhadores começaram a acontecer.

A Mobilização Sindical e os Primeiros Movimentos

A Assembleia dos Tecelões

Conduzida principalmente pelo Partido Comunista Brasileiro, a greve geral teve como primeiro antecedente a assembleia geral dos tecelões, no dia 10 de março de 1953, que decidiram cruzar os braços contra a carestia.

A Expansão do Movimento Grevista

Com ampla adesão em grandes fábricas, como a Tecidos Matarazzo e o Lanifício Santista, o movimento grevista foi, aos poucos, ganhando a adesão de operários ligados a outros setores.

A Marcha da Panela Vazia e a Repressão

O Protesto na Praça da Sé

No dia 18 de março daquele ano, uma multidão se reuniu na Praça da Sé, no centro de São Paulo, e caminhou até o palácio Campos Elíseos, antiga sede do governo estadual.

O Enfrentamento com a Polícia

Tendo como pauta explícita os salários de fome pagos pelas grandes empresas de então, a passeata das Panelas Vazias foi encerrada de forma violenta, em um confronto com a polícia que resultou em grande número de prisões.

A Deflagração da Greve Geral

A Oficialização da Greve

Ao invés de esfriar a mobilização, a repressão deu fôlego à greve: no dia 26 de março, trabalhadores das indústrias têxtil e metalúrgica oficializaram a greve geral.

O Desfecho e as Consequências da Greve

O Acordo e o Retorno ao Trabalho

Oficialmente, a Greve dos 300 Mil encerrou-se em 23 de abril de 1953, quando o Tribunal Regional do Trabalho de SP propôs aumento de 32% nos salários, aceito por patrões e pela maioria dos sindicatos.

As Demissões e o Descumprimento do Acordo

No entanto, o retorno ao trabalho disparou uma onda de demissões, em descumprimento direto a um dos itens do acordo. Ainda assim, a paralisação teve um importante papel em termos de organização de trabalhadores e trabalhadoras – dando origem a um Comando Intersindical, embrião do Pacto de Unidade Intersindical (PUI), e revolucionando as formas de mobilização sindical no país.

Mudanças no Governo e o Papel de João Goulart

A crise também levou Getúlio Vargas a apontar um novo ministro do trabalho, substituindo José de Segadas Viana (que chegou a ameaçar o uso da Lei de Segurança Nacional contra os grevistas) por João Goulart, que acabaria tendo importante papel na consolidação de melhorias futuras para a classe trabalhadora.

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