16 de julho de 1877: tem início a Grande Greve de 1877 nas ferrovias norte-americanas, que mobilizou trabalhadores em vários estados dos EUA

Há 146 anos, iniciava a Grande Greve de 1877 nas ferrovias norte-americanas, que mobilizou trabalhadores em vários estados dos EUA

Ilustração: Mauritius Images

Igor Natusch

Irritados pela segunda segunda redução de salário em oito meses, trabalhadores ligados à Baltimore and Ohio Railroad (conhecida como B&O) deram início, em 16 de julho de 1877, a um dos movimentos grevistas mais impactantes do século XIX nos Estados Unidos. Durante cerca de dois meses, a Grande Greve de 1877 mobilizou mais de 100 mil trabalhadores e paralisou ferrovias em vários estados norte-americanos. Calcula-se que os confrontos entre grevistas e forças de repressão causaram pelo menos 100 mortes, além de mais de mil detenções. A partir dos eventos, os então enfraquecidos sindicatos ganharam fôlego e adesão, em um movimento que fortaleceu a representação da classe trabalhadora no país.

Nos anos posteriores à crise econômica conhecida como Pânico de 1873, a situação dos trabalhadores de ferrovias nos EUA era muito difícil. Com a chegada frequente de imigrantes da Europa, a concorrência pelos postos de trabalho era alta, e os patrões tinham margem para impor salários ruins e condições inadequadas de trabalho, já que dispunham de mão-de-obra disponível em caso de demissões. Combatidos por empresas e governos, os sindicatos tinham alcance quase inexistente – o que não quer dizer, é claro, que a classe trabalhadora não reagisse aos abusos, com uma série de incidentes menores sendo registrados nos anos anteriores.

O estopim do movimento nacional aconteceu na estação da B&O em Martinsburg, no estado norte-americano de West Virginia. Ao saberem da intenção da companhia em promover corte de 10% nos pagamentos, os funcionários decidiram bloquear a saída dos trens até que a redução salarial fosse cancelada. Nem forças policiais, nem milícias convocadas pelo governador Henry M. Mathews foram capazes de demover os grevistas, o que só ocorreria quatro dias depois, a partir da chegada de tropas federais à região. 

A essa altura, porém, os atos de revoltados trabalhadores já tinham se espalhado para outras áreas do país. Trabalhadores da B&O em Baltimore, Maryland, também cruzaram os braços, e a paralisação em Pittsburgh, Pennsylvania (iniciada, pelo que dizem os relatos de época, por um solitário sinaleiro) se espalhou para outros setores, como o das minas de ferro. Em Philadelphia, uma violenta ação contra grevistas no dia 21 de junho causou um tiroteio que resultou em, pelo menos, 40 mortes. Até o final do mês, a greve nas linhas de trem tinha chegado a estados como New York, Ohio, Missouri e Illinois, com motins e ataques contra estruturas e máquinas. 

Mal chegou ao auge, porém, a sequência de atos grevistas começou a se desfazer. Por ordens do presidente Rutherford B. Hayes, tropas federais começaram a atuar em todos os principais focos da greve – e os soldados, disciplinados e bem equipados, foram desmontando a resistência dos trabalhadores. Segundo historiadores, a desorganização e a falta de uma rede de suporte também afetaram os grevistas – vale dizer, por exemplo, que nenhum líder político significativo surgiu em meio aos piquetes. Quando as últimas linhas de trem voltaram a funcionar, havia muito pouco que se pudesse dizer em termos de conquistas concretas para os envolvidos. Mas o evento não foi vazio de resultados: praticamente ausentes da Greve de 1877, os sindicatos passaram a canalizar o sentimento de unidade despertado entre os trabalhadores para dentro de suas associações. A década seguinte registrou um aumento exponencial de associados, e milhares de atos grevistas – geralmente mais organizados e de resultados mais perceptíveis na vida de seus proponentes – foram registrados em todo o território norte-americano.

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